A pior coisa que se pode fazer a
alguém é perguntar a ele(a) "quem é você" (lógico que o interesse é
ir além do RG e CPF). O fato de nos desconhecermos me parece ser, na verdade,
uma dificuldade em achar padrões: conhecemos nossas confusões, e por isso
mesmo, nos confundimos; sabemos que somos múltiplos, e nessa multiplicidade nos
perdemos na pergunta que só quer saber de uma certa unificação.
Por isso, as vezes penso que
independente do quanto os outros nos conheçam, eles sempre saberão mais da
gente do que nós mesmos. Não por que eles detém uma verdade que nós não temos
acesso, ou porque somos tão "burros" que nem de nós mesmo sabemos.
Mas sim, porque independente do quanto nós mesmos nos deixamos confusos, isso
não interfere na nossa sobrevivência (num sentido mais amplo, por favor). No
entanto, precisamos identificar padrões onde o caos é o padrão maior, e nosso
ambiente (físico e social) é geralmente assim: um caos. Não podemos nos dar ao
luxo de refletir muito sobre o que o outro é. Precisamos ser rápidos, astutos,
pois só assim conseguiremos definir possíveis formas de interação com os
outros.
No final, conseguimos
estabelecer um padrão, uma unicidade em alguém que, obviamente, é muito mais do
que um mero padrão coerente, lógico e bem definido. Isso é bom até, não é ruim.
O problema é quando queremos ir contra aquilo que disseram que
"somos", pois não temos uma alternativa melhor. Ou até temos, mas são
várias, e os outros querem apenas uma alternativa. E isso é irritante!
Uns enlouquecem. Outros criam um
personagem mais desejável (afinal, já que terei que ser um só, que seja o
melhor). Mas a maioria se conforma (ou se resigna), e numa simples conversa
(como a que tive hoje numa carona para a faculdade) respondemos a pergunta
"quem é você" com a resposta decorada "sou isso, faço
isso", por não sabermos o que dizer/responder. E isso basta! Já é mais do
que suficiente para o outro saber com quem está lidando. Para ele está tudo
ótimo! Para nós é que o problema se inicia...
E esse problema é que nós, até
hoje, não sabemos com quem lidamos todos os dias, da hora que acordamos até a
hora em que dormimos. E repito: isso realmente irrita. É quase uma demonstração
sádica da natureza que diz "não importa quão inteligente você seja,
humano; você nunca saberá tudo". E que ironia essa: o nosso limite final
não é o universo, a biosfera, os outros, etc. Somos nós. Como diz alguém que
conheço mas não lembro agora, "cara, como assim?"
Acredito que seja por isso que
acho cansativo conhecer novas pessoas, pois uma coisa é se resignar a um
personagem imposto por aqueles que "conhecem a gente tão bem". Outra
coisa é perpetuar isso, dar continuidade a esse aparente padrão e unicidade que
um dia disseram que nós somos.
Ok. Acho que vou parar de pegar
carona. Isso tem me dado uma ressaca existencial danada!
