domingo, 10 de agosto de 2014

“O Palhaço” (2011) – basta o cair das cortinas para as máscaras também caírem

Após muito tempo, decidi retornar à escrita de textos diários do meu blog. Não tenho desculpa alguma. Apenas fiquei sem saco para digitar, digitar e digitar... Mas como são poucos os espaços em que eu exponho minhas opiniões sinceras, logo tive uma séria crise de abstinência e precisei retornar à minha droga: a escrita. E retornarei à ativa com a resenha de um filme que me tocou muito. Trata-se do filme “O Palhaço”.
Sob a direção de Selton Melo, que também protagoniza o filme com o seu personagem Benjamin/Palhaço Pangaré, “O Palhaço” retrata a vida dos artistas do circo Esperança. Entre eles, destacam-se o Valdemar/Palhaço Puro Sangue (Paulo José), dono do circo; a dançarina e cuspidora de fogo Lola (Giselle Mota); os irmãos Lorotta (Álamo Facó e Hossen Minussi), músicos instrumentistas do circo e Dona Zaira (Teuda Bara). A trama gira em torno de Benjamin, um palhaço que, quando está fora dos palcos, abandona os sorrisos e as piadas para trazer no rosto um semblante triste pensativo. Mas na verdade, o que ocorre é que Benjamin está passando por uma crise de identidade, onde não mais se reconhece como Pangaré, o palhaço.
Assim como já li em outras resenhas, eu também não posso deixar de parabenizar a atuação de Paulo José, que nos presenteia com um personagem tão singelo que, num simples olhar, demonstra ser o personagem mais complexo da história. E isso é algo que me encantou não só na atuação desse ator, mas também em todo o filme. Sua complexidade não se encontra nas falas “difíceis”, ou na trilha sonora impecável, ou ainda no figurino. “O Palhaço” encanta mesmo é pela sua humildade. Essa é a palavra que definiria melhor o filme. Sua complexidade nos é passada através da humildade, da simplicidade.
Acredito que filmes nos dão mensagens muito pessoais, e por isso, cada interpretação será sempre única. E no meu caso, não pude deixar de me identificar com o personagem central. Desde Shakespeare, nos ensinam que a vida é um palco, um lugar onde seremos sempre vistos, e portanto, nossa atuação deve ser impecável. Mas e quando as cortinas caem, o que sobra? Ainda somos os mesmos? Nossas máscaras lembram nossos rostos reais? O palhaço Pangaré nos ensina que o mais comum é que palco e bastidores sejam dois ambientes extremamente diferentes quando nós mesmos não temos a menor noção de quem é o personagem e quem é o ator, a pessoa real. E talvez aí resida o ensinamento final do filme: enquanto não nos conhecermos, nossa atuação no picadeiro sempre arrancará o riso dos outros, mas para nós não fará sentido nenhum as palmas da platéia. Tal como quando a prostituta Tonha (Fabiana Karla) diz a Benjamin que ele “é engraçado”, e Benjamin, com um olhar perdido, apenas se cala. Afinal, a magia do palco ainda deve continuar.

Filme recomendadíssimo. Mas não espere que um filme sobre palhaços te fará rir apenas. Talvez ele te faça refletir mais sobre a vida, e quem sabe, te fazer pensar em sair do picadeiro.


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