Após muito tempo, decidi
retornar à escrita de textos diários do meu blog. Não tenho desculpa alguma.
Apenas fiquei sem saco para digitar, digitar e digitar... Mas como são poucos
os espaços em que eu exponho minhas opiniões sinceras, logo tive uma séria
crise de abstinência e precisei retornar à minha droga: a escrita. E retornarei
à ativa com a resenha de um filme que me tocou muito. Trata-se do filme “O
Palhaço”.
Sob a direção de Selton Melo,
que também protagoniza o filme com o seu personagem Benjamin/Palhaço Pangaré, “O
Palhaço” retrata a vida dos artistas do circo Esperança. Entre eles,
destacam-se o Valdemar/Palhaço Puro Sangue (Paulo José), dono do circo; a
dançarina e cuspidora de fogo Lola (Giselle Mota); os irmãos Lorotta (Álamo
Facó e Hossen Minussi), músicos instrumentistas do circo e Dona Zaira (Teuda
Bara). A trama gira em torno de Benjamin, um palhaço que, quando está fora dos
palcos, abandona os sorrisos e as piadas para trazer no rosto um semblante
triste pensativo. Mas na verdade, o que ocorre é que Benjamin está passando por
uma crise de identidade, onde não mais se reconhece como Pangaré, o palhaço.
Assim como já li em outras
resenhas, eu também não posso deixar de parabenizar a atuação de Paulo José,
que nos presenteia com um personagem tão singelo que, num simples olhar,
demonstra ser o personagem mais complexo da história. E isso é algo que me
encantou não só na atuação desse ator, mas também em todo o filme. Sua
complexidade não se encontra nas falas “difíceis”, ou na trilha sonora impecável,
ou ainda no figurino. “O Palhaço” encanta mesmo é pela sua humildade. Essa é a
palavra que definiria melhor o filme. Sua complexidade nos é passada através da
humildade, da simplicidade.
Acredito que filmes nos dão
mensagens muito pessoais, e por isso, cada interpretação será sempre única. E
no meu caso, não pude deixar de me identificar com o personagem central. Desde Shakespeare,
nos ensinam que a vida é um palco, um lugar onde seremos sempre vistos, e
portanto, nossa atuação deve ser impecável. Mas e quando as cortinas caem, o
que sobra? Ainda somos os mesmos? Nossas máscaras lembram nossos rostos reais? O
palhaço Pangaré nos ensina que o mais comum é que palco e bastidores sejam dois
ambientes extremamente diferentes quando nós mesmos não temos a menor noção de
quem é o personagem e quem é o ator, a pessoa real. E talvez aí resida o ensinamento
final do filme: enquanto não nos conhecermos, nossa atuação no picadeiro sempre
arrancará o riso dos outros, mas para nós não fará sentido nenhum as palmas da
platéia. Tal como quando a prostituta Tonha (Fabiana Karla) diz a Benjamin que
ele “é engraçado”, e Benjamin, com um olhar perdido, apenas se cala. Afinal, a
magia do palco ainda deve continuar.
Filme recomendadíssimo. Mas não
espere que um filme sobre palhaços te fará rir apenas. Talvez ele te faça
refletir mais sobre a vida, e quem sabe, te fazer pensar em sair do picadeiro.

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