A leitura de hoje será sobre o artigo “Skinner
e uma crítica a Freud: apresentação e considerações”. Escrito em 2011 na
Revista Natureza Humana, é de autoria de Marcos Rodrigues da Silva e Lucas
Roberto Pedrão Paulino. Marcos Rodrigues da Silva possui graduação em Filosofia
pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, mestrado em
Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, doutorado
em Filosofia pela Universidade de São Paulo e atualmente é professor adjunto da
Universidade Estadual de Londrina. Lucas Roberto Pedrão Paulino, por sua vez, é
psicólogo pela Universidade Estadual de Londrina, especialista e mestre em
Filosofia pela mesma universidade e, atualmente, doutorando em Psicologia pela
Universidade de São Paulo.
Para
demonstrar os argumentos, o artigo utiliza um texto escrito pelo próprio Burrhus
Frederic Skinner (1904-1990), intitulado “A critique of psychoanalytic concepts
and theories”, no qual Skinner faz suas críticas às teorias psicanalíticas. A
crítica de Skinner recai sobre os aparatos mentais (consciente, inconsciente,
id, ego, superego, etc.) da teoria psicanalítica. De acordo com ele, “[...]
tais aparatos [...] não são delimitados com precisão dentro da própria teoria
psicanalítica e, por isso, geram inúmeros problemas. Freud teria concebido seu
objeto disposto em algum lugar da mente, não necessariamente físico, mas que,
ainda assim, poderia ser descrito e explicado em termos físicos” (SILVA e
PAULINO, 2011, p. 147).
Antes
de fazer as considerações, os autores delimitam o que é o Behaviorismo Radical,
local de onde Skinner se coloca para criticar as teorias psicanalíticas. Dessa
forma, Entende-se Behaviorismo Radical como a filosofia que embasa a Ciência do
Comportamento. O Behaviorismo Radical é um dos muitos behaviorismos existentes.
Apesar de ser o que é mais praticado na comunidade científica atualmente, não é
a única forma de recorrer ao comportamento como forma de explicar a vida
humana. Além disso, os behaviorismos não são teorias unificadas, que concordam
entre si.
Ele (o Behaviorismo Radical) difere dos outros behaviorismos – por
exemplo, o behaviorismo watsoniano, cujo padrão explicativo é estímulo-resposta
(S-R); os behaviorismos hullniano e tolmaniano, cujo padrão explicativo é
estímulo-mediador-resposta (S-M-R) – pela demonstração do modelo operante do
comportamento. Neste, o comportamento, entendido como um processo (Skinner,
1953, p. 15) que envolve a interação entre um estímulo/contexto, uma resposta e
uma consequência (definindo o padrão S-R-C); é explicado pela descrição de sua
regularidade e determinado pelas suas consequências (SILVA e PAULINO, 2011, p.
146).
Uma
das preocupações de Skinner com a teoria behaviorista radical foi na
delimitação do seu campo de estudo (ex: significado de “comportamento), pois para
ele toda a ciência deve delimitar a área sobre a qual irá se debruçar. Desse
entendimento, decorre a interpretação skinneriana dos pressupostos freudianos.
Para Skinner, Freud não descobriu o inconsciente, o id o ego e o superego, mas
o inventou. Ele elaborou um modelo causal com três aspectos principais: evento
ambiental, estado mental e sintoma comportamental. E a explicação
comportamental advém do estado mental. “Esse tipo de explicação gera os
problemas de como observar e manipular o estado mental, e é inadequado para
representar a história ambiental, dificultando o estudo do comportamento como
uma variável independente e obscurecendo as variáveis ambientais pela sua
transformação em eventos internos” (SILVA e PAULINO, 2011, p. 150-151).
Assim,
alguns problemas decorrentes dessa forma de explicação comportamental é vista
por Skinner nessa teoria. Primeiro, que o comportamento passa a ser uma mera
expressão de eventos mentais; segundo, que a probabilidade de um comportamento
ocorrer é tratada como algum tipo de modificação interna, como aumento ou
diminuição da quantidade de energia libidinosa, instintiva ou de tendências
agressivas; terceiro que os comportamentos são frutos da aquisição de eventos
internos; quarto, que tratamento do comportamento como dado observável
inexiste; e por último, que essa explicação se afasta dos problemas científicos
legítimos relacionados ao estudo apropriado do comportamento.
O artigo [de Skinner] conclui dizendo que a teoria psicanalítica não
permite a experimentação de seu objeto e, no máximo, deve esperar que as
descobertas de ciências como a neurologia venham a satisfazer suas analogias.
[...] a crítica do artigo é proveniente de uma crítica maior direcionada às
teorias que estabelecem um objeto de estudo fora do domínio da própria teoria
ou que não delimitam seu objeto de estudo, tornando-o de difícil acesso ou
controle, se é que pode ser acessível ou controlado (SILVA e PAULINO, 2011, p.
151).
O
artigo de Silva e Paulino (2011) se conclui com o tópico “Algumas considerações
filosóficas”. A tese final levantada pelos autores diante da leitura do artigo
de Skinner é de que este não exige de Freud correlação empírica de seus
conceitos teóricos. Usando como exemplo a Física, que usa muitas vezes como
forma explicativa entidades que não necessariamente tem correlações empíricas,
Skinner defende que o importante é que um conceito científico mantenha relações
com outros conceitos já consagrados dentro da própria abordagem teórica. Como
síntese final, entendemos que a teoria freudiana (bem como as demais teorias
cognitivas/mentalistas) não demonstra essas relações internas entre os seus
demais construtos teóricos.
REFERÊNCIA
SILVA,
Marcos Rodrigues da; PAULINO, Lucas Roberto Pedrão. Skinner e uma crítica a
Freud: apresentação e considerações. Natureza Humana,
vol.13, n.2, pp. 144-155, 2011.
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