Assisti essa semana o filme “Eu
Não Faço A Menor Ideia Do Que Eu Tô Fazendo Com A Minha Vida”. Direção de Matheus
Souza, o filme conta a história de Clara, personagem interpretada por Clarice
Falcão, uma garota que aos seus plenos vinte anos de idade se encontra perdida,
sem saber o que está fazendo com própria vida. Pressionada pelos pais
(interpretados por Nelson Freitas e Bianca Byington) a seguir a carreira de
Medicina, profissão essa exercida por todos da família, Clara logo se sente
insatisfeita com essa “escolha”. Passa então a matar as aulas e a frequentar um
espaço destinado a jogos de boliche. Lá, Clara conhece Guilherme (Rodrigo
Pandolfo), um rapaz que a ajuda muito nesse momento de crise.
Uma das impressões finais que
tive do filme (a menos relevante na verdade) é que o filme, apesar de ser
categorizado no gênero “Comédia”, não tem a comédia em si como seu foco. Na
verdade, há poucos momentos cômicos. No filme, e a grande parte deles não são
momentos cômicos forçados, mas que demonstram a ironia da vida e de situações
cotidianas. Um dos momentos que ri muito, por exemplo, é quando o pai de Clara
manda ela ficar de castigo em seu quarto sem televisão, e ela (como boa filha
que é) fica de castigo conectada na internet. É um momento cômico por que
demonstra essa falta de entendimento entre jovens e adultos, onde o pai já não
entende que deixar o filho trancado no quarto e de castigo está longe de ser um
castigo. Mas, como disse, essa é a minha impressão menos relevante.
Como estudante fanático por
temas da Psicologia, vi nesse filme uma fonte riquíssima de conteúdos para
serem trabalhados numa aula de Orientação Profissional. Digo isso não apenas por
conta da temática geral, que lida com a escolha profissional (apesar de que,
como direi mais a frente, não é exatamente esse o ensinamento que o filme nos
traz). Dou essa sugestão também pela atualidade como o assunto foi tratado. A
cultura pop, atual, os anseios jovens, a forma como vivemos hoje é abordada de
forma tão rica que traz uma visão mais complexa de algo que parece fácil de ser
discutido, que é a escolha profissional. Eu, como
jovem-adulto-ainda-adolescente-e-com-várias-crises-juvenis me senti muito
identificado com a personagem. Em momentos em que todos nos exigem escolhas
rápidas, é fácil nos encontrarmos despreparados e chegarmos a um ponto onde
notamos que não sabemos mais para onde estamos indo. Esse é um assunto muito
bem ilustrado na parte em que Clara, apesar de sentir a inquietude de não saber
para onde está indo, diz nunca ter parado para pensar em sua vida.
No entanto, o filme (como já
disse) vai além da mera escolha profissional. O filme toca um ponto doloroso,
que fazemos questão de manter escondido, que o fato que é o não saber nada
sobre nós mesmos. Não mais nos auto-conhecemos, não sabemos nada sobre nós,
somos completamente alienados sobre o nosso eu. Na passagem em que Clara faz um
vídeo para concorrer a uma vaga no Big Brother Brasil, Clara ressalta que o seu
defeito é não ter personalidade, o que a torna flexível a ser qualquer coisa.
Mas ela não é exatamente flexível. A prova disso é a sua insatisfação em cursar
Medicina. Algo que tenho dificuldade em dizer que é só fruto da nossa sociedade
atual, mas que me parece possível ser real, é a rapidez e o excesso de
informação. Temos que conhecer o mundo, mas e nós, onde ficamos?! Clara sente
isso, e apesar de não pensar profundamente sobre, toma certas decisões, como
por exemplo ter o mínimo de informação possível, pois sente medo que no dia em
que ela se descubra, sua cabeça já esteja lotada. Nota: essa é também uma parte
em que morri de rir (metaforicamente falando).
Minha crítica ao filme é sobre o
único fato que não me permitiu uma identificação completa. Simplesmente não há
personagens negros ou pardos na narrativa. Eles existem apenas durante o
momento em que Clara está produzindo um documentário pessoal. Aliás, o filme
conta a história de uma autentica integrante da classe média alta carioca, e
por essa razão, não expõe algumas verdades vivenciadas por jovens da classe
mais baixa, como por exemplo, o fato de que a escolha profissional é uma
questão de sobrevivência. Senti realmente falta disso, de uma interação maior
com a realidade pobre.
Por fim, ressalto a mensagem
mais importante do filme, e que toca pontos que talvez passem despercebidos a
quem está assistindo. Na cena que considerei mais emocionante, e que ocorreu
nos momentos finais do filme, Clara expõe ao seu pai a falta que sente de ter
um pai presente, que saiba mais sobre ela e “a leve pra passear no Jardim
Botânico”. Essa cena é sublime justamente por que quebra uma tese formada no
decorrer do filme, que é a ideia de que jovens (e só os jovens) tem problemas
existenciais que atingem de forma contundente a profissão ou a escolha dela.
Quando Clara termina sua “catarse”, o pai dela diz a frase “Eu não faço a menor
ideia do que eu tô fazendo com a minha vida”. Ou seja, adultos tem sim vários
momentos de crise, e muitos deles acabam atingindo justamente quem eles mais
amam. Foi um momento que quebrou meu coração, e notei que ainda sou humano (só
não sei se isso é uma notícia boa...).
Um filme bom, calmo, tranquilo,
com ótimo roteiro e atores muito competentes. Aos fãs da Clarice Falcão, é
possível notar com mais força o lado atriz dela. E aos que não são tão fãs, um
momento muito bom para pensar na nossa existência, pois como o próprio filme
nos deixa implícito, é raro termos momentos assim, para simplesmente pensar...





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