segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Deuses e deusas africanos: toda a magia e beleza do Candomblé

Mitologia é algo que me agrada sempre, desde a egípcia até a dos maias e astecas, não há uma pela qual eu não fique absolutamente maravilhado. E foi essa sensação que tive ao ver esse ensaio fotográfico realizado por James C. Lewis, onde são representados alguns orixás do candomblé.
Abaixo, algumas fotos que mais me encantaram e, posteriormente, o link onde vi as fotos.


Oyá: também conhecida como Iansã, é a deusa guerreira dos ventos e dos furacões. Geralmente, a recebe como oferenda o acarajé, sua comida favorita, e é identificada pelas cores rosa, tons de roxo e marrom. Trata-se de uma das orixás femininas mais imponentes e poderosas.

Obá: deusa do casamento e da vida doméstica, essa filha de Iemanjá seria muito poderosa, e temida por diversos dos outros orixás. Foi a primeira esposa de Xangô, e cortou a orelha para provar seu amor pelo marido (ainda que haja versões em que foi enganada a fazer isso por Oxum). Também é a deusa dos rios, mas das águas revoltosas: pororocas e cachoeiras são o seu domínio.

Ibeji: os gêmeos sagrados são orixás crianças, um menino e uma menina, que teriam os nomes de Kehinde e Taiwo. São os deuses da juventude e da vitalidade. Segundo a mitologia yorubá, os gêmeos Ibeji são filhos abandonados por Oyá, que os teria jogado na água depois do parto, sendo então criados por Oxum como seus próprios filhos. No Brasil, é comum que sejam sincretizado com os santos Cosme e Damião.

Exu: orixá da comunicação, o mensageiro entre o mundo material e espiritual, e também protetor das aldeias, das casas e das encruzilhadas. É irreverente, provocador e brincalhão, e por esse motivo foi erroneamente identificado com o diabo pelos colonizadores da África.

Oxalá: no Brasil, todos vários orixás funfun (do branco), entre os quais Obatalá e Orixalá, acabaram recebendo o nome genérico de Oxalá e sendo agrupados sob uma mesma imagem. Esse é o deus da humanidade, descendente direto de Olorum (o orixá criador). É uma divindade mais rígida, e muitas vezes opõe-se à natureza irreverente de Exu. No Brasil, houve sincretismo com o Senhor do Bomfim da Bahia.

As fotos realmente são de aguçar a imaginação. É uma boa sacada para professores de Ensino Religioso tratarem do tema Candomblé com criatividade e um grande teor artístico.


Link


domingo, 27 de outubro de 2013

Sai desse corpo que não te pertence!

Imaginem o seguinte evento: tarde chuvosa de uma quarta-feira agradavelmente tediosa, solidão de seu belo quarto, notebook conectado à internet, facebook. Parecem que são coisas que se atraem mutuamente e automaticamente. Uma tarde dedicada ao ócio ininterrupto e à suspensão de qualquer pensamento mais complexo e que fuja do simples "estou com fome". Pois bem, você decide se conectar a essa rede social tão populosa, e larga seu livro de lado. Mas eis que por ironia do destino, o primeiro “post” que você vê no facebook é esse:


Você queria apenas descansar, espairecer, livrar sua cabeça dos pensamentos esporadicamente críticos e contundentes sobre tudo e sobre todos. Mas essa imagem não deixa. Essa imagem teima em ficar na sua cabeça, pairando sobre seus pensamentos, te seguindo como um fantasma invisível, mas barulhento. Pronto! Você está em mais um momento “sou crítico”.
Tal imagem evidencia de forma sutil e paradoxalmente violenta a visão que temos hoje em dia dos corpos gordos, da gordura e de tudo aquilo que é flácido. Para os desavisados, eu traduzo que mensagem é essa: ser gordo é ser infeliz; é um peso (uso essa palavra aqui em seu sentido metafórico, ok?); uma doença que é preciso se livrar, ou melhor, se curar. Só que mais do que isso, a imagem toca num ponto fundamental sobre o assunto: a gordura esconde nosso verdadeiro ser.
Quer um exemplo claro disso? Me diga em 5 segundos no mínimo o nome de uma pessoa que diz “sou gordo(a)” no lugar de “estou gordo(a)”. Difícil? Ok, mais 10 segundos. Ainda não conseguiu? Mais 30 segundos. Precisam de mais tempo? Tudo bem, pense com calma sem se preocupar com o tempo. Nada ainda? Pois bem, notaram como a gordura é tratada como um “estado”, e não como “o ser”. Isso é perturbador se notarmos que ninguém fala “estou magro”, mas sim “sou magro”. Qual a diferença? A diferença reside no fardo que todo esse tecido adiposo ganhou em nossa cultura: mais do que um tecido que pesa em termos de quilogramas, é também um tecido que pesa no nosso emocional. É por isso que, não raro, a palavra “estou gordo(a)” ganha denotativos próprios dos sentimentos. Ou seja, “estou gordo(a)” é um sentimento que praticamente se equivale ao “estou triste”, ou “estou frustrado(a)”, ou “estou desesperado(a)”.
Quero deixar claro aqui que não acredito que a personalidade, a identidade, o “ser” de uma pessoa sejam algo eterno e imutável. Pelo contrário, sou a favor dos que dizem que estamos em eterna “metamorfose ambulante”. E apesar disso nos remeter a “estados do ser”, eu penso que isso não se trata de estados, mas sim, de formas de ser passageiras. Somos o que somos temporariamente, mas ainda assim somos. Hoje eu sou estudante de Psicologia, amanhã serei psicólogo. Mas a constatação de que há essa mudança não retira o fato de que eu sou (mesmo que só hoje) um estudante. No entanto, com a gordura não agimos dessa forma. É inadmissível que ela faça parte do nosso “ser”. Ela sim pode e deve ser considerada um “estado” nosso, algo passageiro e que não interfere em nada no nosso “ser”.
A imagem anteriormente citada resume de forma precisa essa imagem que temos do corpo gordo como um invólucro que esconde nosso ser. A autora Maria Marzano-Parisoli, autora do livro Pensar o Corpo (2004), coloca bem a representação que temos dos corpos gordos e flácidos: estes remetem a uma falta de controle sobre nossas vidas, e como tal, também remetem a uma falha de caráter horrível. Ora, se é essa a representação do corpo gordo que temos, obviamente não será essa a representação que iríamos querer como constituintes do nosso “ser”! Quem quer ser considerando como um frouxo, alguém que não tem controle sobre a própria vida? Quem?
“Somos todos magros, perfeitos e sadios! É nosso corpo que, por maldade do destino, nos esconde do mundo!”. Esse é o grito de ordem, como forma de nos salvar dessa representação cruel que dia após dia nos é colocada “guela a baixo”. Por isso, depois que vi tal imagem e me choquei com ela, passei a compreender a pessoa que o postou. Em uma sociedade que cada vez mais rotula e estigmatiza, é necessário que nós, num ato de defesa, passemos a nos referir àquelas características indesejadas como um “estado” nosso, e não como àquilo que constitui o nosso “ser”. Ou como a própria imagem diz, “Sai desse corpo que não te pertence”.


Ps. 1: Tentei aqui fazer uma leitura mais subjetiva e individualista sobre o tema “corpos gordos”, ou seja, os reflexos que as representações sobre esse corpo têm sobre nossa individualidade. Mas ainda pretendo escrever sobre as incoerências dessas representações sociais que temos.
Ps. 2: O livro citado (Pensar o Corpo) terá em breve uma resenha elaborada por mim.
Ps. 3: Eu sou gordo.

Lembranças...


Lembranças são estranhas.
Elas nunca se vão totalmente.
Mas com o tempo, tornam-se incompreensivas, como uma imagem embaçada.
Ou como um borrão de tinta.
Ou como um teste de Rorschach.
Onde cada prancha não tem um sentido a priori, mas depende pura e simplesmente da interpretação nossa.

Lembranças são legais.

O que eu quero?


O que eu quero é simples.
Quero paz.
Quero a calma.
Quero sentir a tranquilidade do passar de um dia vagaroso.
Quero presenciar a serenidade típica de um monge budista apreciando o vento.
Quero viver a paciência de caracol deslizando de um canto a outro no jardim.
Quero parar o tempo e o relógio.
Não, quero apenas não adiantar o relógio.

Bom, o que eu quero não é simples.




sábado, 19 de outubro de 2013

A Ditadura Opinativa

Li recentemente um artigo no blog Sociedade Racionalista, no qual a questão da opinião foi tratada. Sem deixar de defender a Liberdade de Expressão, o artigo tocou num ponto que geralmente fazemos questão de desprezar, não notar. Trata-se do valor de verdade, ou melhor, da capacidade de acabar uma discussão que as opiniões pessoais têm em nosso cotidiano.

Penso que já aconteceu com todos a seguinte situação: você com seu(s) amigo(s) discutindo sobre total assunto, até chegar em determinado momento em que alguém diz que a opinião sobre o assunto é aquela. Geralmente acompanhada com a expressão (ou mesmo a frase) de que tal opinião não se modificará, é fato que tal situação coloca uma pedra em qualquer possibilidade de síntese que pode surgir em um diálogo.
Antes de ser algo que só se expressa no meio informal, tenho a impressão que no ambiente acadêmico tal ditadura também se expressa. Minha curta e vaga experiência no curso de Psicologia demonstrou que a opinião é mais forte do que a investigação ou a reflexão sobre determinado assunto ou tema.
Um caso muito clássico nessa experiência que tive e ainda tenho é em questão a abordagem teórica a se aliar. Longe de ser uma escolha consciente e embasada de argumentos racionais, tal escolha é baseada na opinião, ou melhor, na frase “é a que eu mais gosto”, ou “é a que melhor trata dos problemas humanos”, ou ainda “é a mais legal/interessante”. Não sei se em outras áreas tal questão se repete, mas tenho um receio muito grande se a ciência como todo (e em especial as ciências humanas) se tornar um fruto da opinião, um plebiscito.
Como bem posto no texto, a Liberdade de Expressão coloca a questão da opinião como algo público, passível de ser discutido. Mas tal liberdade se expressa muito mais como monólogos isolados do que como diálogos genuínos. A opinião, quando enxergada como o ápice de um debate, é encarado quase como algo divino e intocável. Discutir opiniões me parece não ser mais possível, mas quero muito que continuemos tentando. Sou contrário ao texto quando este diz que há o “errado” e o “certo”, ou que há verdades absolutas. Como um autêntico humano de meu tempo (o século XXI), eu acredito na relatividade quando tocada nos assuntos humanos, e isso me faz duvidar de (quase) tudo o que é absoluto. Mas isso também é algo a ser discutido. Algo que jamais poderia ocorrer caso eu dissesse “mas essa é a minha opinião”.
Para concluir, digo que minha opinião é a favor da frase que diz que a Liberdade de Expressão é uma arma. De fato, nada mais verdadeiro. E como tal, temos que ter cuidado com essa arma. Uma faca pode cortar seu dedo ou pode cortar três belos limões. Mas nos dois casos, a faca continua sendo uma faca, independente se ela te deu um corte ou uma deliciosa limonada...

Texto lido