Às vezes me
canso desse espetáculo que é a vida social. Não porque acredito ser um erro as
pessoas transformarem em espetáculo suas vidas, afinal não acho certo e nem
útil ir contra isso. O que me cansa é o convite, ou melhor, a imposição de que
todos participem desse espetáculo. É preciso aparecer, é preciso demonstrar, é
preciso aparentar o mínimo 'auto-estima' (uma palavra que odeio) e mostrar seja
lá o que for. Não é uma questão de dizer que a vida é um teatro, onde há o
palco e a platéia. Não, antes fosse. Não há mais platéia. É um espetáculo que,
na sua ânsia de ser democrático, se torna impositivo, e aqueles que querem ser
meros "apreciadores" são tomados como estranhos, para se dizer o
mínimo, ou mesmo seres de outros planetas. É preciso aparecer, e como futuro
psicólogo, sei que quem tenta não fazer parte disso corre sérios riscos de ser
psicopatologizado. Uma pena, pois mesmo para mim, que tento dar valor àquilo
que tenho de mais íntimo (minha intimidade), muitas vezes me vejo tentado ou
coagido a excluí-la de minha vida, seja por razões ditas "políticas",
seja por razões fúteis. Não se trata, portanto, de um grito contra a obrigação
de expor a própria intimidade. Se fosse só isso, eu me sentiria plenamente
confortável. Mas não. Se trata antes de tudo de eliminar qualquer traço de
intimidade, de privado, de "só meu e de quem eu aceite dividir". Tudo
deve ser público, e isso me cansa.

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