sábado, 21 de fevereiro de 2015

O Dia em que me cansei

Às vezes me canso desse espetáculo que é a vida social. Não porque acredito ser um erro as pessoas transformarem em espetáculo suas vidas, afinal não acho certo e nem útil ir contra isso. O que me cansa é o convite, ou melhor, a imposição de que todos participem desse espetáculo. É preciso aparecer, é preciso demonstrar, é preciso aparentar o mínimo 'auto-estima' (uma palavra que odeio) e mostrar seja lá o que for. Não é uma questão de dizer que a vida é um teatro, onde há o palco e a platéia. Não, antes fosse. Não há mais platéia. É um espetáculo que, na sua ânsia de ser democrático, se torna impositivo, e aqueles que querem ser meros "apreciadores" são tomados como estranhos, para se dizer o mínimo, ou mesmo seres de outros planetas. É preciso aparecer, e como futuro psicólogo, sei que quem tenta não fazer parte disso corre sérios riscos de ser psicopatologizado. Uma pena, pois mesmo para mim, que tento dar valor àquilo que tenho de mais íntimo (minha intimidade), muitas vezes me vejo tentado ou coagido a excluí-la de minha vida, seja por razões ditas "políticas", seja por razões fúteis. Não se trata, portanto, de um grito contra a obrigação de expor a própria intimidade. Se fosse só isso, eu me sentiria plenamente confortável. Mas não. Se trata antes de tudo de eliminar qualquer traço de intimidade, de privado, de "só meu e de quem eu aceite dividir". Tudo deve ser público, e isso me cansa. 


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