Via de regra, reclamamos durante
os dias da semana pela chegada rápida do sábado e do domingo. Quando estes
finalmente chegam, somos tomados por um sentimento de vazio que não conseguimos
explicar. Como é próprio do ser-humano procurar explicações sobre o que está a
sua volta (sejam elas explicações emocionais ou racionais), costumamos dizer
que ficamos tristes por que "a segunda-feira está retornando".
Ainda dentro desse pensamento, é
possível dizer que o único dia da semana realmente "feliz" é a sexta
feira. Mas por quê? Mais uma vez, o pensamento recorrente os diz que é a sexta
a anunciadora do grande momento de felicidade, que é o tão esperado Fim de
Semana. E assim vivemos nossas vidas acreditando que as coisas são simples
dessa forma.
Mas as coisas são, ao meu ver,
mais complicadas do que parece. Se olharmos a história, notamos que é apenas na
nossa época atual que o tempo parece "correr" mais do que o normal.
Isso nunca antes foi visto, e para averiguar isso, basta conversar com nossos
avós e demais pessoas com idade avançada, e veremos que é unânime a sensação de
que o tempo corre depressa ultimamente.
Não estou dizendo nada novo,
nada inovador, nada estranho. É um fato que todos parecem sentir, sem exceção.
No entanto, isso muito mais tem a ver com a quantidade de afazeres que temos
que administrar em apenas 24 horas, do que uma teoria maluca que diz (por
exemplo) que "a Terra está girando mais depressa" (e sim, fiz uma
referência a um dos filmes do Super Man...).
O sistema econômico em geral,
aliado à globalização (principalmente no que diz respeito à informação), podem
ser considerados os culpados, ou responsáveis, por essa nova forma de conduzir
o tempo. São macro estruturas a nível de relação que se inserem de forma quase
violenta naquilo que é privado, nas microestruturas, nas micro-relações. Mais
uma vez, não estou dizendo nada novo.
No entanto, fica a questão: onde
se insere o assunto iniciado aqui, que são os tão desejados finais de semana,
que de felizes muito pouco têm? Tudo seria uma maravilha se as coisas
funcionassem apenas a nível ontogenético cultural, ou seja, seguindo uma visão
skinneriana, a nível individual e social. Seriamos completamente adaptados a
esse sistema social que se engendra em nossas vidas, e problema nenhum seria
diagnosticado. Mas ainda dentro da visão skinneriana, não somos apenas
individuais e sociais. Somos biológicos, temos uma herança filogenética que
dita formas pré-estruturais de funcionamento (tanto individuais quanto
sociais). Ou seja, nosso "relógio biológico" não costuma andar tão
rapidamente quanto o relógio da globalização e da informação. Prova disso é que
ainda notamos essa rapidez com que o ano passa tão rapidamente.
Desejar que a semana passe
rapidamente nada mais é do que dizer "Stop! Eu não estou conseguindo
acompanhar esse ritmo!". E assim, desejamos com todas as nossas forças a
chegada do Fim de Semana, que promete trazer consigo (promessa essa quase
messiânica), de trazer o descanso e a alegria que não conseguimos desfrutar
durante os dias úteis.
Assim, chega a sexta-feira,
anunciante por excelência, da chegada do Sábado e do Domingo. Aqui sim eu
consigo dizer que desfrutamos a alegria do Fim de Semana, pois a Sexta-feira é
um dia de promessa, um dia de esperança. E a esperança costuma nos dopar, alcoolizar
(metaforicamente e literalmente), nos trazendo a sensação da alegria perdida. Mas
aqui surge a contradição: os Finais de Semana, via de regra, não cumprem o que
prometeram. Um momento de reflexão para uns e de sensação para a maioria se
iniciam, ambas dizendo a mesma coisa.
Desejamos tanto que o tempo passe
rápido, que não notamos que ele já está mais rápido do que de costume, e quando
nos damos conta desse desejo, eis que chega a crise existencial, que como eu
disse, ou é sentida ou é refletida (as vezes, as duas coisas). Crise essa que
demonstra a impotência que temos diante da vida.
O desejo de adiantar algo que já
está adiantado traz mais depressa o fim inevitável, e o Fim de Semana costuma
nos dizer isso, que nós de uma maneira completamente irracional, desejamos que
o nosso fim venha mais depressa. Aqui já não é difícil de entender o porquê de não
desfrutarmos da alegria do Final de Semana de forma verdadeira.
No final, nos damos conta de que
o que desejamos nos dias úteis é uma utopia para quem é imortal, e não para nós
meros mortais. Assim, maquiamos essa decepção existencial com a justificativa
"estou de mau humor por que amanhã é segunda-feira". E eu digo que
não, não estamos decepcionados por que amanhã é segunda-feira. Estamos decepcionados
por que todos os dias são uma eterna Segunda-feira.

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