Que bondade e maldade são
adjetivos que modificam suas características com o passar dos tempos, isso todo
mundo sabe. Logo, não é novidade nenhuma o fato de que o que é considerado “bom”
e “mau” hoje em dia (em relação à moral humana) é diferente daquilo que era
moralmente bom ou mau há 50 ou 80 anos atrás.
Desde que Jesus ditou as regras
do que viria a ser o Novo Testamento, ser “bom” e ser “mau” são os critérios
primários de classificação moral dos seres humanos. Para esclarecer, quando
digo que foi a partir do Novo Testamento o estabelecimento definitivo desses
critérios, falo em termos de manifestação das massas: é o cristianismo/catolicismo
(e sua vertente mais atual, o protestantismo), e não o judaísmo (baseado no
Antigo Testamento), que estabelece na sociedade atual normas de funcionamento
na esfera privada e moral. No entanto, mesmo com códigos morais escritos há
milhares de anos, é fato que bondade e maldade se modificaram muito.
Ou seja, os tempos mudam, as
formas de relacionamento mudam, mas os adjetivos continuam os mesmos: ou somos
bons, ou somos maus. Essa semana li um artigo de Pondé, onde ele declara que a cultura
judaico-cristã estabeleceu as raízes do que viria a ser a Psicologia. Isso por
que é graças a ela que ficamos capazes de nos auto-conhecer, auto-investigar,
priorizar causas e razões internas. Mas é óbvio que para descrever algo,
precisamos conceituar antes. E o dualismo aqui tomou as rédeas.
Mas nem sempre focamos tanto a
moral humana e suas causas mais profundas. Basta olhamos a cultura grega, que
até hoje influencia nossa forma de política (termo esse cunhado por eles). Com
raras exceções, como Sócrates (e sua célebre frase “conhece-te a ti mesmo”), a
filosofia grega quase sempre priorizou a vida pública. Uma prova disso é que,
antes mesmo de investigar o que é Bom e o que é Mau, os Gregos buscaram saber o
que é a Verdade, conceito fundamental para a retórica e para a vida pública.
A Bondade e a Maldade, no
entanto, não necessitam de investigações, visto que suas definições
encontram-se no âmbito das emoções, e não da razão. Como sugere Pondé no artigo
que li, nem é preciso que tais conceitos passem pela razão, pois já há uma
entidade sobrenatural (Deus) que serve de modelo e de juiz que dita o que é
bom.
Colocações a parte, é inegável
que nós sempre tentamos nos qualificar em uma das categorizações. A literatura,
por si só, trata de perpetuar essa forma de visão. Deixando minha veia mais
nerd falar, o seriado Game of Thrones (baseado no livro “As Crônicas de Gelo e
Fogo”), é uma das poucas obras que desmistifica esse dualismo. Lógico que não
totalmente, visto que sua intenção é imitar relações humanas reais dentro de um
contexto específico, e como nas relações automaticamente nos categorizamos, é
óbvio que o dualismo é presente nessa obra, mesmo que de forma menos intensa.
Basta averiguar o personagem de Ned Stark, que ganhou o título de mocinho numa
obra que buscou de todas as formas abolir os conceitos de mocinho e vilão.
Como bem sabemos, a vida inteira
somos postos a agir e pensar da partir desses dois parâmetros, seja pelas
relações sociais concretas, seja pelas obras literárias, seja pela cultura. É
um dualismo pouco flexível, ao mesmo tempo que inconstante. Um verdadeiro filme
de terror para quem teme categorizações, mas não consegue fugir delas. Diante
disso, é que fico pensando: como um dia poderemos ser Humanos, se a todo o
momento nos exigem uma posição ora de Anjos, ora de Demônios...


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