sexta-feira, 31 de julho de 2015

Um dia memorável

Hoje aconteceu algo intrigante comigo. Estava eu, andando na rua, e um rapaz me viu e disse em tom de deboche e em voz alta (ou melhor, absurdamente alta) a seguinte frase: “Você ‘tá gordo’, hein Ronald”. Logo após isso, soltou sorrisinhos juntamente com o seu amigo ao lado. Não tive tempo de me indignar ou dar algum tipo de resposta ao sujeito. Em vez disso, tentei puxar no fundo de todas as minhas memórias passadas quem seria aquele sujeito. Quase me frustrei, mas após um longo esforço, me lembrei. Tal rapaz estudou comigo parte do ensino fundamental e o ensino médio todo. Não éramos amigos, mas éramos considerados colegas somente pelo fato de estudarmos na mesma sala. Não havia nada que nos ligasse no passado, e como vocês podem imaginar, nada que nos ligasse no presente.
Mas estarei mentindo se dissesse apenas isso. Tal rapaz fazia parte de um homogêneo grupo muito intrigante com o qual tive contato em tempos escolares. Digo intrigante porque esse grupo fez não apenas eu, mas todos que se destacavam negativamente na escola se sentirem mal. E isso era intrigante para mim, pois não entendia porque me sentia tão mal. Hoje entendo um pouco tais questões. Tal grupo, formado quase exclusivamente por rapazes orgulhosos de sua masculinidade quase primitiva, taxavam todos os “desviantes” com apelidos racistas, homofóbicos, gordofóbicos, misóginos e por aí vai. Eu mesmo já tive tantos apelidos vergonhosos, que o único que me agradou até hoje foi o apelido de “Coruja”, devido aos meus olhos maiores do que a média.
No entanto, tive sorte. Aliás, tive três tipos de sorte. A primeira sorte que tive foi o meu caráter. Ou melhor, conduta, modo ser, particularidade, ou qualquer nome que melhor se encaixe. O que quero dizer é que a minha tendência a ser impopular e apreciar a impopularidade me manteve sempre afastado de um possível desejo de me igualar a esse grupo que já me deixou muito mal, mas hoje me causa uma certa “tristeza alheia”. Essa foi minha primeira sorte, e devo muito à minha educação familiar.
A segunda sorte que tive, um pouco ligada à primeira, foi a minha paixão natural pelos estudos e os meus consequentes êxitos nos boletins escolares. Isso me dava uma alegria enorme em épocas de escola, e me fazia sentir orgulhoso de quem eu era, mesmo que aquele grupo de colegas da escola me dissesse o contrário. Digo que foi sorte porque é com tristeza que hoje relembro amigos de escola que, tal como eu, eram “desviantes”, e não tinham nem o prazer de ir bem nos estudos. Isso seria certamente uma alegria na vida deles, mas hoje, cresceram tentando fazer parte de uma norma social ridícula, na falsa expectativa de serem “tão melhores” quanto aqueles que debochavam deles (de nós...).
Por fim, a terceira sorte que tive eu nomeio como UFGD. Ou melhor, nomeio como Biblioteca da UFGD. Imaginem vocês um rapaz que sentia que não era tão errado assim como lhe tentaram fazer acreditar, mas não tinha palavras nem para se defender, nem para criticar coisas que ele “sabia” que estavam erradas em sua cultura. Bom, esse rapaz era eu. Agora imaginem a alegria desse rapaz ao descobrir um mundo completamente novo, e títulos que ele nunca imaginava que poderiam fazer parte de um livro (ex: “A dominação masculina”, “Racismo e Sociedade”, “História da Sexualidade”, “Pensar o Corpo”, e tantos outros). Não apenas um vocabulário novo, mas também uma nova forma de pensar surgiu em mim, dando a certeza de um sentimento já antigo: eu não era um erro. Isso foi uma sorte tamanha!
Bom, acreditem ou não, tudo isso passou na minha cabeça após eu me lembrar quem era o rapaz que eu citei no começo do texto, e logo um riso irônico, mas triste, surgiu. Esse riso teve dois motivos. Primeiro, porque é um tanto idiota apontar e debochar de dados tão naturais e comuns como a gordura de alguém. Talvez eu esteja gordo mesmo, mas, se eu fechar os olhos para a minha pressão e o meu colesterol que estão igualmente altos, tal fato não me causa estranheza ou tristeza (devo isso às três sortes que tive). Logo, a tentativa de deboche é sumariamente neutralizada, sem a necessidade de resposta ou mágoa da minha parte.
O segundo e último motivo do meu riso é, talvez, o mais triste. Triste porque me fez lembrar da alegoria da caverna de Platão, do cara que vê a luz e tenta fazer seus pares acreditarem que a luz existe, mas eles não acreditam por estarem desde o nascimento adaptados à escuridão e às sombras. Tal como o cara da caverna, é talvez com tristeza que eu olhe hoje para esse meu ex-colega e veja como ele ainda se prende a conceitos tão ultrapassados, que não faria sentido para qualquer pessoa com dois neurônios. É triste também porque é uma amostra de como existe por aí pessoas com mais de 20 anos, mas ainda infantilizadas, como se vivessem eternamente na hora do recreio, procurando o “coleguinha diferente” para debochar dele e se sentir (mesmo que por alguns instantes) superior.

Mas ora, isso tudo é tão triste, então porque ainda assim eu ri? Bom... eu não sou a pessoa mais boazinha desse mundo, e talvez não chegue nem perto desse ideal. Mas quando eu estava chegando em casa e ainda estava com aquele ex-colega na cabeça, não pude deixar de conter a alegria. E foi uma alegria tão grande, que me fez ter vontade de agradecer ao meu ex-colega. Se o tivesse visto de novo hoje, talvez mil agradecimentos a ele eu daria, pois hoje ele me mostrou o quanto eu evoluí (como todo bom Pokémon) ao me dar um vislumbre dos anos que passei na escola, e notar que aquele rapazinho magrelo, afeminado e tímido já não se sente mal por ser assim, tão estranho. Agora me diga, meu caro ex-colega: era essa a sensação de superioridade que você sentia? Porque se for, eu te entendo. Mas se não for, obrigado de qualquer forma. Você fez o meu dia ser mais feliz!

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Saga Encantadas – Neve (Cap 1 - Gelo e Trevas)

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Quem leu a trilogia “Saga Encantadas”, da Sarah Pinborough, e ainda acompanha a série Once Upon a Time, certamente deve ter ficado encantado com a forma como a autora tratou os personagens dos contos de fada, dando a humanidade quase obscena que sempre fica implícita nas histórias infantis. Bom, Sarah Pinborough não é nada implícita. Pelo contrário, ela entra na personalidade desses personagens milenares sem nem pedir permissão, e demonstra as facetas de vilões e mocinhos de uma forma que abala nossas concepções de bem e de mal. Pois bem, tais histórias me impressionaram tanto, que logo eu imaginei outras histórias que poderiam se encaixar às já contadas por Sarah Pinborough. Dessa forma, trago aos supostos leitores desse blog, uma continuação dessas histórias. Nessa primeira parte, trarei capítulo após capítulo a história de Perséfone, irmã mais velha de Lilith e atual Rainha do Gelo de um reino distante e desabitado. Tais narrativas ocorrem exatamente após os momentos finais do segundo livro de Sarah Pinborough. Aos que se interessarem, boa leitura.
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Capítulo 1 – Gelo e Trevas

A alvura de seus cabelos confundia-se com a palidez de sua linda pele. Talvez fosse reflexo das brancas paredes congeladas e revestidas com neve, mas havia algo extremamente incomum no loiro platinado daquela figura feminina, sentada majestosamente em seu trono de gelo. Porém, seus cabelos não eram nem de longe o que mais chamavam a atenção nela. Seu semblante, apesar de ser belo, trazia uma frieza congelante que lhe dava um aspecto sinistro e misterioso ao mesmo tempo. Somado a tudo isso, ela trajava um vestido sóbrio, mas elegante, com mangas longas e soltas. Uma pele de raposa branca em volta do pescoço conferia um ar de sofisticação à bela dama. Sua cabeça adornava uma bela coroa de cristais transparentes que, junto aos seus brincos do mesmo material, representavam as únicas joias presentes naquela mulher. No mais, a beleza e a frieza daquela mulher não eram capazes de esconder os primeiros sinais da idade, denunciando que aquela dama já não era mais uma garota inocente há algum tempo. Um visitante provavelmente se sentiria sufocado pela brancura e frieza daquele local, mas num misto de medo e admiração, certamente se sentiria tentado a se curvar diante daquela beleza feminina de gelo e neve.
Era possível ver pelas enormes janelas do palácio que havia, no lado de fora, uma densa nevasca, e isso era a única coisa que denunciava que o humor de Perséfone, a senhora que estava ali, sentada e inerte em seu trono. Nos transparentes e cintilantes cristais de gelo que havia próximos ao trono, Perséfone via duas figuras femininas montadas em um cavalo, lindas, radiantes, felizes, celebrando o amor mútuo que havia entre elas. Quanto mais Perséfone via aquelas figuras, mais assustadora se tornava a nevasca do lado de fora do palácio. Mas seu belo rosto assumia uma rigidez tão inabalável, que nenhum sentimento por ele era expresso, além da frieza e de uma raiva fria, silenciosa.
Rainha de Gelo... Foi com profunda indignação que Perséfone tomou conhecimento de que sua irmã mais nova era conhecida como a Rainha de Gelo naquelas terras distantes. E pelo que descobriu em seguida, numa das viagens que fez disfarçada àquele reino, aquela rainha adotava tal título com certo orgulho. Perséfone lembrava, com muita mágoa, os tempos de criança em que Lilith era adorada por sua mãe e sua bisavó por ter talento natural para as artes das trevas, enquanto ela possuía poderes típicos daqueles que praticam poderes da luz. E assim Perséfone relembrava seus tempos de meninice: ela, por ter poderes “inúteis” aos olhos da mãe e da avó, obrigada a ser mera personagem coadjuvante na história da irmã, que por ser ótima na magia negra, era a esperança da família em dar continuidade à tradição para as próximas gerações.
Desprezada, indesejada e silenciada, Perséfone aprendia calada todas as lições que sua mãe passava a Lilith, e zombava dela em seu íntimo por notar que a irmã demorava para aprender as lições, enquanto ela própria demonstrava uma capacidade natural em ser uma dama. Mas de que adiantava? Quantas vezes Perséfone fez questão de servir seus familiares, demonstrando suas habilidades naturalmente elegantes, enquanto elas só tinham olhos para Lilith? Quantas vezes, enquanto era obrigada a fingir ser criada de Lilith no castelo do pai dela, Perséfone fez de tudo para que notassem que ela tinha um talento natural para ser rainha, demonstrando várias características de uma verdadeira dama: graça, educação, e principalmente, a capacidade de nunca expressar suas emoções? Perséfone lembrava uma vez em que viu sua irmã chorando em seu quarto, triste por nunca conseguir atender às exigências de sua mãe e de seu pai, o rei. Naquele dia, Perséfone notou o quanto era diferente da irmã, pois pensou consigo que, nem mesmo na intimidade de seu quarto, deixaria se levar pelas emoções de uma forma tão pouco nobre. Lilith, que notou a irmã atrás da porta, e por estar acostumada a nunca ver seu rosto expressar emoções, correu até ela e a abraçou, julgando que a irmã estava se compadecendo de sua tristeza. Não poderia estar mais errada! Perséfone nunca se entristeceu pela irmã. Ao contrário, ela tinha pela irmã um misto de ódio e desprezo, tudo muito bem mascarado pelo seu “semblante de gelo”.
Anos mais tarde, não suportou ver a irmã tomando de si o título de Rainha de Gelo. Não! Mil vezes não! A irmã não ia se apoderar de um título seu. Era verdade que ter o poder de criar e manipular gelo e neve nunca foi algo que Perséfone se orgulhasse. Mas era um fardo dela. Um fardo só dela! E a irmã não podia tomar algo que era dela, depois de já lhe ter tomado tanto... Assim, Perséfone foi capaz de entrar no meio da multidão, naquele reino estranho, e em apenas uma semana popularizar um novo adjetivo para a irmã: Lilith agora era a Rainha Má!
Hoje em dia, passado algum tempo depois desses acontecimentos, Perséfone, a agora autodenominada Rainha do Gelo (ou Rainha da Neve, para alguns), estava ali, sentada, observando sua irmã radiante de tanta felicidade, por finalmente ter encontrado seu amor: sua enteada. Um leve sorriso, quase imperceptível, surgiu no semblante frio de Perséfone. Esse sorriso indicava apenas uma coisa: se Lilith foi criada para ser aquela que iria dar continuidade à magia negra da família por meio de seus filhos; mas agora, era óbvio que isso não ia acontecer. E assim, uma vingança que nem tinha se iniciado contra sua família tinha agora um término glorioso.
Eles deviam ter visto os talentos naturais de Perséfone e a tornassem uma rainha, e não dar tanta atenção a Lilith, uma mulher      que só pensava em si. Mas o destino foi cruel, e obrigou a melhor das irmãs (na visão de Perséfone) não ser uma rainha de direito. Se era a majestade que Perséfone queria, ela só viria por meio do poder bruto, de sua força, e não de alianças matrimoniais, como ocorreu com a irmã. Assim, como uma avalanche de neve, Perséfone pôs para fora todo o seu poder e raiva reprimidos. Tomou de forma violenta e rápida o castelo da realeza daquele reino distante, situado ao sul de uma cidade toda de esmeraldas, e em poucas horas, era a única habitante do local. Todos os cidadãos do reino se tornaram meras estátuas de gelo. Perséfone notou a ironia disso: ela, que escondia de forma perfeita todas as suas emoções mais poderosas, foi capaz de causar mais destruição do que Lilith e toda a sua família. Mas Perséfone também sabia que nunca iria cair nas graças de sua mãe, pois já estava morta, e de sua bisavó, que via com desprezo os poderes dela. Pois bem! Perséfone não iria mais se importar com sua família. Seria agora a Rainha de Gelo daquele reino agora inabitável. Seria só, mas seria livre. E seu poder, que foi por tanto tempo motivo de vergonha, agora seria sua força. Uma força silenciosa, mas que quando posta em ação, causa mais destruição do que todas as trevas de sua família.
A bela rainha do gelo estava perdida em pensamentos, enquanto a tempestade de neve se tornava mais forte lá fora. Até que uma inquietação súbita tomou Perséfone. De uma forma elegante, ela se levantou de seu trono e a passos leves, mas firmes, foi até a sacada do aposento onde estava, para ver quem era o visitante inesperado. Se ela se surpreendeu ou não com a visita era impossível saber, mas ao notar que era sua velha bisavó que adentrava em seus domínios, fez a nevasca parar com um leve movimento das mãos. Parada ali, e olhando a figura frágil de sua bisavó indo contra todas as expectativas de fragilidade e lutando contra o frio e a forte ventania, Perséfone não pôde deixar de pensar o quanto era parecida com ela. Sim, aquela família era de mulheres fortes, e Lilith era a única que não representava bem essa característica familiar.

Quando a velha de aparência frágil e vestida com trapos entrou, Perséfone a esperava sentada à mesa, com um bule de chá e biscoito brancos a espera. A bisavó precisava notar o quanto Perséfone era educada, elegante. Mas a avó não estava interessada em chás e bolinhos, embora não os recusasse, e Perséfone logo saberia o porquê. 

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Verônica

O caso de Verônica me espantou muito, e me trouxe várias dúvidas, pois não imaginava que um caso de violência tão hediondo poderia ter tantos defensores. Como podem julgar esse caso como algo justificável devido aos erros (reais ou ficcionais) que Verônica teria cometido? Será que não notam que o que está em jogo não é a defesa dos erros dela, mas sim a defesa de sua dignidade? Será que não notaram que tanto a idosa quanto o policial, apesar de terem sofrido, não tiveram em momento nenhum sua dignidade humana posta em xeque? E será que não notam que não dá para comparar a violência realizadas por indivíduos com a violência que o Estado (por meio da polícia) fez e faz constantemente? Verônica pode ter errado. Mas nada, absolutamente nada justifica a violência sofrida por ela.
A mídia e a polícia me espantaram profundamente nesse caso sim, embora eu pense que foi mais uma decepção do que uma surpresa. O que realmente me horrorizou foi a resposta das pessoas em relação a esse caso, que se expôs de forma cruel e sanguinária nas redes sociais. Foi extremamente visível a divisão que fizeram entre “pessoas de bem”, que merecem ser defendidas, e as pessoas-não-humanas, que por não serem humanas, perdem qualquer garantia de serem defendidas e terem seus direitos garantidos. Verônica foi, nesse triste episódio, uma não humana, que já causava aversão pelo simples fato de ter escolhido quem realmente era (uma mulher). Mas até então não havia motivos “concretos” para ser ridicularizada e exposta de forma a mostrar aquilo que a maioria via nela: uma aberração. Pois bem, Verônica errou, e seu erro custou caro, pois “aberrações” que ousam errar não recebem o mesmo destino que “pessoas de bem”, ou seja, um julgamento dentro daquilo que a Constituição e a Declaração dos Direitos Humanos garantem e permitem. Ora, Verônica já foi, a priori, considerada uma não-humana, uma aberração. Logo, não havia a garantia de um tratamento humano a ela. Somado a isso, tivemos uma polícia sanguinária unida a uma população autoritária, que selaram o triste fim de Verônica. Sei que sua violência física foi horrivelmente sofrida, e se ela sair viva dessa, levará traumas físicos para o resto da vida. Mas seu pior trauma será saber que ela não pagou apenas pelo crime que cometeu, mas também (e principalmente) pelo crime de ousar ser aquilo que ela realmente é.
Me senti muito mal com esse caso, pois tal qual disse um rapaz num vídeo que assisti sobre esse caso, isso poderia ter acontecido com qualquer um de nós LGBTT. Somos aberrações, e como aberrações, não temos o direito de ser tratados como seres humanos, pois de acordo com o clichê universal, direitos humanos são apenas para humanos direitos. Mas, nesse caso, ouso me posicionar como ser humano e dizer a todos que defenderam a ação da polícia: vocês são as evidências mais fortes de que a nossa sociedade está profundamente doente.


Obs: Não poderia deixar de citar Eliane Brum, que parafraseou de forma excelente as ideias de Hannah Arendt em seu artigo “A boçalidade do mal”. Aos que finalmente se envergonharem de ser “pessoas de bem”, esse é um texto excelente, embora seja extremamente perturbador. 

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Ensaio sobre a crueldade humana

O assunto daqui de casa é, na maioria das vezes, os animais. A razão disso é o fato de minha mãe trabalhar como faxineira no Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). Também não é raro ela relatar casos de animais mal tratados que aparecem na instituição. Nosso amor por animais é tanto, que um dos gatos que possuímos atualmente teve sua perna traseira esquerda arrancada/cortada de maneira brutal quando ainda era filhote. Minha mãe (e o resto da família) teve pena do animal, e resolveu adotá-lo. Hoje, esse gato ainda é desconfiado em relação às pessoas, mas é amoroso com todos nós.
Nessa semana, minha mãe nos contou o caso de um veado encontrado em área urbana e capturado pelo CCZ. O veado foi atropelado, mas provavelmente serão os maus tratos que sofreu que o fará temer os humanos para o resto de sua vida. Após o atropelamento, esse animal ficou impossibilitado de correr, e essa situação foi o começo de seu tormento. Um grupo de pessoas (de acordo com minha mãe, adolescentes entre 12 e 16 anos) violentou o veado com chutes, pontapés e pauladas, até o animal quase perder a vida. Foi por muito pouco que isso não aconteceu, para falar a verdade.
Após a sensação de terror e pena que me assolou, passei a pensar mais nessa situação, e me dei conta de que esse é apenas um caso extremado (será?) de fatos que ocorrem frequentemente em nosso cotidiano. A violência, seja ela simbólica ou física, é a base de nossas relações. Ela é um instrumento de troca, de acordos, de expressão, e inclusive um elemento de entretenimento (UFC, etc.). Ela está em todos os lugares, desde os microespaços familiares, até a vida pública e política. Compõe a estrutura dos grupos dominantes e oprimidos. Não raro, é possível notá-la inclusive no discurso de movimentos que lutam por questões raciais, feministas e dos LGBT’s. Conclusão: a violência é um dado, é um fato, é uma realidade da qual não se pode fugir. Mas isso se choca com minha visão de que o que somos é fruto do nosso ambiente sócio-cultural. Seria a crueldade humana o prova mais básica de que somos muito mais influenciados por questões de ordem natural, e não por razões sócio-culturais?
Para pensar isso, me lembrei de dois fatos. O primeiro é um fato que nem precisa de fundamentações mais aprofundadas: a violência é a forma mais fácil de se conseguir o que queremos. Isso responderia muito do porquê de nossa sociedade ser tão violenta. Mas é logo posta a baixo se pensarmos que em várias vezes (para não dizer na maioria das vezes) a manifestação da crueldade humana ocorre em contextos em que não há um objeto claro a ser ganho, em que não há recompensas. Nesses contextos, a violência parece ser um fim em si mesma, e contraria, em partes, ao primeiro fato que citei.
O segundo fato exige uma maior explicação: nossa sociedade tem por base a cultura judaico-cristã, e esse fato nos atinge de forma quase fisiológica, de uma maneira tão intrínseca, que um ateu de berço é capaz, a qualquer momento, ter um discurso muito semelhante com qualquer discurso cristão. E não apenas discurso, mas condutas também são influenciadas por essa cultura que nos cerca e, por essa razão, nos cria e nos molda.
Eu digo que esse é um fato capaz de explicar a crueldade humana manifestada por meio da violência simbólica e física da seguinte maneira: é possível afirmar que até os momentos anteriores à ascensão cristã, a violência era um meio para se atingir um fim. Romanos, gregos, “bárbaros”, enfim, todas as populações antigas baseadas num sistema que podemos caracterizar como tanatopolítica (políticas que controlam a morte) utilizavam a violência como uma forma de conquistar territórios, riquezas e escravos. Dessa forma, não raro, todos esses povos eram povos guerreiros. Há quem diga que essa é a prova definitiva de que eles eram povos mais cruéis que nós, um povo que vê na guerra uma exceção, e não uma regra. Na minha não humilde opinião, penso que o contrário é válido. Seria injustiça com esses povos chamá-los de cruéis. Que eram violentos, isso não há dúvidas. Mas cruéis, no sentido mais perverso do termo, isso certamente não. A crueldade, mesmo quando manifestada no discurso como um desejo de extermínio do outro, só foi possível por meio da ascensão da cultura cristã.
Há, no Antigo Testamento, uma passagem no mínimo interessante:
E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. (Gênesis 1:26)
Esse trecho da bíblia, que é lido por cristãos, judeus e mulçumanos, foi talvez o marco para a criação de um pensamento antropocêntrico, que surgiria apenas ao fim da Idade Média. Isso porque esse trecho nos deu a possibilidade de adorarmos não mais figuras imaginárias, como figuras cosmológicas (o Sol, a Lua, a Natureza, para algumas culturas), antropomórficas (Rá, Seth, Anúbis, na cultura egípcia) ou humanizadas, mas exageradamente distanciadas da realidade devido a seus poderes (Zeus, Afrodite, Hades, na cultura grega clássica). O versículo vinte seis do primeiro capítulo de Gênesis nos permitiu a adoração de nós mesmos, algo nunca visto antes do advento da cultura cristã, a não ser pelos filósofos gregos.  
Mas além da adoração de nós mesmos, esse trecho da Bíblia nos possibilitou a nossa comparação com Deus, e sendo esse deus um ser visto como figura de onipotência, foi natural que nos enxergássemos como centros do universo. Assim, o Estado teocrático cristão foi um veneno para si mesmo, e pôs o ser humano como figura de destaque em todas as áreas, desprezando ou desconhecendo a insignificância desse ser humano quando comparado com a própria natureza e o universo como um todo.
Esse caráter quase essencial da cultura cristã, que ao contrário do que acredita, cultua muito mais o homem do que Deus (dando razão à piada “E o Homem criou deus à sua imagem e semelhança”), foi muito mais reforçada com o advento da globalização do que extinta. Podemos não ser mais religiosos, podemos até ter matado Deus (como nos lembra Nietszche), mas isso está longe de ser razão para nos tirar o presente que a cultura judaico-cristã nos deu. Somos deuses, e agora mais do que nunca. O deus superior dava limites ao nosso orgulho exacerbado. Hoje, para continuar em cena, ele precisa sempre nos dizer que estamos sempre certos, e desde então malafaias, felicianos, hitlers e tantos outros mais se tornaram cada vez mais comuns.
Somos onipotentes, e por sermos onipotentes, nossa crueldade perversa não precisa de razões para surgir. Não envolve mais recompensas. Ela estrutura nossas vidas. Estamos acima de todas as coisas, e por isso tudo aquilo que não é a nossa imagem e semelhança deve se curvar aos nossos caprichos, ou como diria Caetano Veloso, “(...) é que Narciso acha feio o que não é espelho”. Ora, a realidade nos prova a cada momento que não somos superiores de “bosta nenhuma”. A realidade nos mostra dia-após-dia o quanto somos insignificantes. Mas não foi isso que aprendemos. Não é isso que nossa cultura nos diz. Somos à imagem e semelhança de Deus, e como ele já nem existe mais como instância reguladora, nós somos os novos deuses, cabendo a esse deus arcaico e fora de moda aparecer apenas para validar nossos atos e discursos.
Assim, cá estamos, com toda a nossa crueldade perversa, posando de deuses e punindo tudo aquilo que é diferente de nós. A irmandade, discurso falido do cristianismo, nunca foi seguida a risca. Antes serviu para criar ódio entre grupos diferentes do que para nos unir. Assim, não é de se admirar eventos como o veado que foi literalmente espancado pelos adolescentes, ou qualquer outro caso. Ser Deus nos fez sermos tão intolerantes quanto o personagem bíblico.
Não arrisco dar uma solução a isso. Que a violência é estrutural, isso eu não duvido; que a crueldade é uma característica perversa que nos molda desde o berço, isso também não duvido. Mas meu pessimismo natural não me impede de acreditar que podemos ainda atingir uma cultura de paz, de tolerância. Sei que é complexo se chegar a esse estado, mas penso que se voltarmos a nos dar conta da nossa insignificância, talvez sejamos capazes de aceitar tudo o que é diferente de nós, e paremos de ser uma mistura perversa de Narciso com o deus grego Ares. 

segunda-feira, 30 de março de 2015

AC/DC

Back in black, I hit the sack
I've been too long, I'm glad to be back
Yes I'm let loose from the noose
That's kept me hangin' about

Seguindo pela estrada que vai para o inferno, decidi escrever um pouco sobre essa banda que anima o pessoal desde 1973. Originado na Austrália, AC/DC pode ser considerada hoje uma banda que entrou definitivamente para a cultura e história do rock mundial. Pioneiros no estilo heavy-metal, seus fãs se dividem em dizer se eles são do gênero hard-rock ou soul-rock.


A banda foi fundada pelos irmãos Angus e Malcolm Young, e sua primeira apresentação ocorreu num clube chamado Chequers, localizado em Sydney, no ano de 1973. Sua formação inicial contava com Angus Young na guitarra solo, Malcolm Young na guitarra base, Colin Burgess na bateria, Van Knedt no baixo e Dave Evans nos vocais. No entanto, Dan Evans não foi integrante da banda por muito tempo, sendo substituído por Bom Scott em 1973. O álbum de estréia da banda foi High Voltage, gravado em apenas 10 dias e lançado em 1975.
Em 1980, Bom Scott falece, e é substituído por Brian Johnson, vocalista da banda até hoje. Atingindo seu auge em 1981, a banda conquistou milhares de fãs no mundo todo, principalmente nos Estados Unidos, sendo sucesso de vendas (a banda chegou a vender inacreditáveis 200 milhões de cópias no mundo todo!).
Recentemente, Malcolm Young se afastou da banda por motivos de saúde, sendo substituído em 2014 por seu sobrinho Stevie Young.

Alguns dos ex-integrantes:
1 – Dave Evans (ex vocalista)


2 – Bom Scott (ex vocalista; faleceu em 1980)

3 – Malcolm Young (ex guitarrista)


Integrantes atuais
1 – Angus Young (guitarra solo desde 1973)
 
2 – Cliff Williams (baixo e vocal de apoio desde 1980)

3 – Brian Johnson (vocalista desde 1980)

4 – Chris Slade (baterista entre 1989 e 1994; 2015)

4 – Stevie Young (guitarrista e vocal de apoio desde 2014)


Top 5
5 – TNT

4 – Hell’s Bells

3 – The Jack

2 – Highway to Hell

1 – Back in Black


Referências
AC/DC: a história do nome e a idéia do uniforme de Angus - http://whiplash.net/materias/curiosidades/079234-acdc.html

Adoniran Barbosa

João Rubinato, ou como é mais conhecido, Adoniran Barbosa (1910-1982) é um ícone na história da música popular brasileira. Filho de imigrantes italianos, Adoniran Barbosa sempre teve o sonho de adentrar na carreira artística, sonho esse posto em xeque por muito tempo devido a sua origem humilde e sua falta de formação. Seu nome artístico é o resultado da junção do nome de um amigo seu com o sobrenome do sambista Luiz Barbosa.
Um dos fatos que me fizeram ter contato e apreciar a obra de Adoniran é o cunho popular de suas músicas. A particularidade das letras está no fato de Adoniran adotar não raras vezes um linguajar menos rebuscado, próprio das camadas mais baixas de São Paulo. Certa vez, Adoniran disse que só fazia samba pra povo. “Por isso faço letras com erros de português, porquê é assim que o povo fala. Além disso, acho que o samba, assim, fica mais bonito de se cantar."
Faleceu aos 72, com pouco reconhecimento do meio artístico, seja em termos financeiros, seja em termos artísticos. Mas hoje, é inegável a contribuição desse cantor e compositor para a história de nossa música.



Top 5
5 – Saudosa Maloca


4 – Joga Chave


3 – Malvina


2 – Acende o Candieiro



1 – Trem das Onze


O que há com esses homens?

O que há com esses homens, que abandonam o sentimento (por ser coisa de mulher) e a razão (por ser coisa de nerd)?
O que há com esses homens, que na tentativa de demonstrar que são mais homens, debocham de quem não está dentro desse ideal?
O que há com esses homens, que por acharem que na vida tudo é posse, possuem, mas não amam, suas esposas?
O que há com esses homens, que desprezando toda a filosofia por trás da linguagem, chamam suas esposas de “suas mulheres”?
O que há com esses homens, que abominam qualquer forma de feminização, tornando aberrações quem (de acordo com eles) são exemplos daquilo chamado de “mulherzinha”?
O que há com esses homens, que não são capazes de realizar qualquer ato mais acolhedor e carinhoso, utilizando da violência para assuntos tão banais?
O que há com esses homens, que categorizam mulheres para casar e não casar?
O que há com esses homens, para os quais o pênis é sinônimo de poder, categoria avaliadora e instrumento de desisterização de mulheres?
O que há com esses homens, que por eu escrever tais palavras, me consideram uma vergonha para a raça?


Johann Sebastian Bach

Um “louco” que caminhou 200 milhas entre Arnstadt e Lubeck (duas cidades da Alemanhã) para ouvir o organista Dietrich Buxtehude, e perdendo, em decorrência dessa “loucura”, seu emprego. Esse foi Johann Sebastian Bach (1685-1750). Ícone do período barroco da música ocidental, Johann Sebastia Bach, ou simplesmente Bach, foi desde criança um apaixonado pela música, se dedicando incansavelmente ao estudo dessa arte. Conta-se que sua dedicação era tanta que um de seus hábitos mais rotineiros era estudar à luz do luar, costume adquirido na infância.

Vindo de uma longa linhagem de músicos, Bach teve desde muito cedo um terreno fértil para o desenvolvimento de seu talento, muito embora sua vida não tenha sido fácil. Caçula de oito irmãos, Bach ficou, aos nove anos, órfão de pai e mãe, e precisou morar em Ohrdruf junto com seu irmão mais velho, o violinista Johann Christoph. Aos 15 anos, matriculou-se na escola São Miguel de Lüneburg, local onde pode desenvolver sua técnica e conhecimento musical.
Nos anos de 1700, foi nomeado Kapellmeister (mestre de capela) em Cöthen, onde trabalhou sobre a proteção do príncipe Leopold. Foi o momento em que teve maior desenvolvimento de sua obra instrumental, especialmente devido ao sucesso da sua obra Concertos de Brandenburgo, encomendada pelo duque de Brandenburgo. Após trabalhar nas cortes alemãs, Bach mudou-se para Leipzig em 1723, local em que suas obras ganharam um viés mais religioso. São dessa época as famosas obras Johannespassion (Paixão segundo São João, 1723) e Matthauspassion (Paixão segundo São Mateus, 1729).
Sua importância na história da música ocidental é sem precedentes, sendo considerado um ícone não apenas do período em que viveu e compôs suas peças, mas de toda a música erudita. Suas obras foram influências de vários outros artistas da posteridade, entre eles Mozart e Beethoven.
Para mim é particularmente difícil escolher a obra que mais me agrada (apesar de ter escolhido uma obra vencedora).  

TOP 10
10 – Suíte No.3 para Orquestra in D major, BWV 1068
Escolhi essa peça na décima posição porque foi ela que me fez conhecer outra obra de Bach pela qual eu me apaixonei (sétima posição dessa lista). Composta no ao de 1730, trata-se de uma obra composta conjuntamente por Bach, Carl Philipp Emanuel Bach e Johann Ludwig Krebs.


9 – Minueto in G major, BWV 114
Portadora de uma sensibilidade belíssima, essa obra faz parte do conjunto de peças intitulado “Pequeno Livro de Anna Magdalena Bach”. Apesar de estar entre as obras de Bach, é hoje considerada uma composição de Cristian Petzold.


8 – Jesus alegria dos homens, BWV 147
A parte final da cantata Herz und Mund und Tat und Leben é de uma beleza singular, e nos faz sentir o caráter mais puro e celestial que a tradição cristã nos tentou passar durante seus séculos de existência. Etéreo, sacro, imaculado. São essas as palavras que nos vêm quando ouvimos essa peça belíssima.


7 – Ária na Corda sol
Originada da Suíte No.3 para Orquestra, Ária na Corda Sol, ou Ária da 4º Corda,  é uma peça adaptada para violino e piano. Se a Cantata 147 nos remete à figura do pai criador, Ária na Corda Sol nos faz lembrar da Mãe. Portanto, maternal é a palavra que me passa pela cabeça quando escuto essa música. Generalizações a parte, é impossível não se sentir acolhido ao ouvir essa música, e por isso, é uma ótima dica para quem quer ter um início de sono tranquilo.


6 – Tocata e Fuga in D Minor, BWV 565
Essa é, talvez, a primeira música de Bach que eu ouvi sem saber. Sinistro é o adjetivo que melhor se adequaria a essa obra, e por isso ela pode assustar ouvidos mais sensíveis. Mas se é uma peça que nos cause um desconforto inicial, sua técnica logo nos toma, e sem saber já estamos apreciando uma música sombria.



5 – Das Wohltemperierte Klavier [O Cravo Bem Temperado]
Essa música é um teste de paciência do qual eu não tenho modéstia nenhuma de dizer que eu passei sem grandes problemas. Isso porque se trata de uma peça longa. Trata-se de um conjunto de obras para cravo solo. Sua estética e complexidade musical é admirável.


4 – Movimento número 3 do Concerto de Brandenburgo No.3 in G major, BWV 1048
Concertos de Brandenburgo são seis obras compostas por Bach entre 1718 e 1721. O movimento que escolhi para ocupar a quarta posição é movimento número três (allegro) da peça número 3. E não é para menos! Essa música fez parte da abertura do programa Conversa de Músico (programa que passava na TV Senado), programa esse que foi um dos maiores responsáveis pela minha paixão por clássicos da música. Por isso, essa música possui um lugar muito especial na minha história, e foi muito difícil para mim, não colocá-la na primeira colocação. Mas não devo me enganar. Apesar de eu ter um carinho especial por essa obra, ela não é a peça de Bach que me fez adentrar definitivamente no universo erudito.


3 – Badinerie
Tentei me lembrar da primeira vez que ouvi essa música, mas não me lembro. Acho que a ouvi pela primeira vez quando ainda estudava música. Trata-se do movimento número 7 da Suíte No. 2 para Orquestra in B minor (BWV 1067). Escrita para flauta solo, Badineirie é uma música que me faz imaginar crianças brincando. Só não me perguntem o porquê.


2 – Partita in A minor para Flauta Solo, BWV 1013
Trata-se de uma partita em quatro movimentos composta para ser executada por uma flauta transversal, e sua data de composição é desconhecida. Sua segunda posição aqui se deve ao fato de que a flauta é o segundo instrumento musical que eu mais amo. A música que possuo em meus arquivos é executada por Emmanuel Pahud, é a minha segunda escolha quando vou realizar minhas caminhadas ou simplesmente desejo descansar e/ou ler um bom livro.


1 – Seis Suítes para Violoncelo Solo, BVW 1007-1012
Eu tentei, juro que tentei, mas não consegui escolher só uma peça. Eu simplesmente amo essas obras de Bach. A técnica, a estética, e a complexidade dessas obras são de uma singularidade se igual. Posso dizer inclusive que antes de ouvir essas obras, eu tinha uma visão muito preconceituosa sobre o violoncelo, instrumento que agora eu aprecio de forma inigualável. Nem a flauta transversal, instrumento que me fez suspirar por tanto tempo, é tão apreciada hoje por mim quanto o violoncelo. E isso eu devo à influência decisiva dessas peças. Beleza! Essa é a única definição que tenho quando escuto essa obra monumental e, ao mesmo tempo, modesta do mestre Bach.


Referências
Johann Sebastian Bach - Gênio traduz mistérios do sagrado - http://musicaclassica.folha.com.br/cds/17/biografia.html
Johann Sebastian Bach - Curiosidades - http://musicaclassica.folha.com.br/cds/17/curiosidades.html


sábado, 21 de fevereiro de 2015

O Dia em que me cansei

Às vezes me canso desse espetáculo que é a vida social. Não porque acredito ser um erro as pessoas transformarem em espetáculo suas vidas, afinal não acho certo e nem útil ir contra isso. O que me cansa é o convite, ou melhor, a imposição de que todos participem desse espetáculo. É preciso aparecer, é preciso demonstrar, é preciso aparentar o mínimo 'auto-estima' (uma palavra que odeio) e mostrar seja lá o que for. Não é uma questão de dizer que a vida é um teatro, onde há o palco e a platéia. Não, antes fosse. Não há mais platéia. É um espetáculo que, na sua ânsia de ser democrático, se torna impositivo, e aqueles que querem ser meros "apreciadores" são tomados como estranhos, para se dizer o mínimo, ou mesmo seres de outros planetas. É preciso aparecer, e como futuro psicólogo, sei que quem tenta não fazer parte disso corre sérios riscos de ser psicopatologizado. Uma pena, pois mesmo para mim, que tento dar valor àquilo que tenho de mais íntimo (minha intimidade), muitas vezes me vejo tentado ou coagido a excluí-la de minha vida, seja por razões ditas "políticas", seja por razões fúteis. Não se trata, portanto, de um grito contra a obrigação de expor a própria intimidade. Se fosse só isso, eu me sentiria plenamente confortável. Mas não. Se trata antes de tudo de eliminar qualquer traço de intimidade, de privado, de "só meu e de quem eu aceite dividir". Tudo deve ser público, e isso me cansa. 


Resenha do livro “A História da Sexualidade I: A vontade de saber”

"[...] mais servil ante às potências da ordem do que dócil às exigências da verdade". (p.54)
O presente texto terá por objetivo apresentar alguns comentários e pontos de vista referentes ao primeiro livro da coleção História da Sexualidade, do filósofo Michel Foucault (1926-1984). Foucault, como será chamado a partir de agora, foi um pensador famoso por elaborar teorias em que relacionava poder e conhecimento com as estruturas de controle social. Suas obras são consideradas como um conjunto de ideias dentro do pós-estruturalismo francês, muito embora o próprio Foucault tenha negado isso mais tarde e seus escritos demonstrem um evidente desvio desse arcabouço teórico.


“História da Sexualidade I: A vontade de saber” é considerada uma das principais obras do autor, muito embora ela não sirva como parâmetro para se entender seus principais pensamentos. Isso porque é nesse livro que Foucault inicia suas curiosas ideias sobre poder e suas formas complexas de controle social. O livro é dividido em cinco capítulos, nos quais ele apresenta a ideia comum que se tem sobre a história da sexualidade, refuta tal ideia e demonstra o que estava realmente em jogo.
Tal ideia diz respeito ao que Foucault chama de “hipótese repressiva”, ou seja, a ideia de que o sexo (e consequentemente, todos os discursos sobre sexo) foi reprimido na Era Vitoriana[1], devido a uma moral supostamente forte. É sobre essa hipótese que Foucault levanta as seguintes questões: (1) o regime de repressão ao sexo foi instaurado historicamente? (2) o poder é sempre repressivo? (3) o discurso crítico contra a repressão é, também, uma forma de repressão? E assim, Foucault levanta sua primeira tese, na qual aponta que "[...] a ilusão está em fazer dessa interdição o elemento fundamental e constituinte a partir do qual se poderia escrever a história do que foi dito do sexo a partir da Idade Moderna" (p. 17). Ou seja, para Foucault, o que houve não foi uma repressão dos discursos sobre o sexo, mas ao contrário, uma explosão discursiva sobre o sexo nos três últimos séculos, mas junto com uma depuração, uma purificação da linguagem.
Tal tese nos parece, a princípio, não válida, visto que já está tão enraizado em nossa cultura a ideia de que sexo sempre foi proibido e de que falar sobre ele era um ato de enfrentamento diante de uma norma social rígida. O que Foucault nos diz é que, se antes da Idade Moderna havia apenas o discurso teológico, a partir dela se proliferou discursos das mais diferentes áreas do conhecimento humano: há um discurso médico, psiquiátrico, psicológico, moral, demográfico, biológico e político (além de outros possíveis, em minha opinião). Assim, é possível interpretar que se não ocorreu uma proibição no discurso sobre o sexo, o que houve foi uma normatização, um "como se deve falar". Ou seja, o que há na verdade é uma incitação ao falar sobre sexo, mas dentro de formas variadas, embora rígidas, de discurso.
Essa é a ideia geral e friamente resumida do que me foi possível extrair do livro. No entanto, determinados trechos me fizeram pensar e, se não fui capaz de discordar de Foucault, tentei ir um pouco além (se é que me foi possível tal proeza). Um exemplo é o trecho que diz "o sodomita era um reincidente, agora o homossexual é uma espécie” (p. 44) o que para Foucault é entendido como fruto das classificações que surgiram na Idade Moderna. Mas será que é só uma tentativa da Scientia Sexualis (termo usado por Foucault para nomear os diversos discursos que se produziram) de classificar? Não houve um propósito, talvez não tão implícito de desumanizar determinados grupos com práticas sexuais distintas das demais? Note que é a partir daqui que o homossexual passa a ser uma classificação não apenas de práticas, mas de todo um estado do ser, ou seja, uma classificação identitária. Ora, isso não é um objetivo claro de delimitar uma nova espécie, uma espécie que não é a humana? Sinto, no entanto, que Foucault responde a essa minha dúvida.          De acordo com ele, tais classificações não foram neutras. Elas tinham um objetivo claro de delimitar o normal e são do anormal, patológico e desviante. Tal trabalho foi feito com maestria pelas instâncias médicas, psiquiátricas e jurídicas.
Uma outra ideia nova é a ideia de poder que Foucault defende. A princípio, é preciso dizer que esse conceito não é mais entendido como algo exterior aos indivíduos. Para Foucault, o poder deve ser compreendido
"[...] como a multiplicidade de correlações de forças imanentes ao domínio onde se exercem e constitutivas de sua organização; o jogo que, através de lutas e afrontamentos incessantes as transforma, reforça, inverte; os apoios que tais correlações de força encontram uma nas outras, formando cadeias ou sistemas ou ao contrário, as defasagens e contradições que as isolam entre si; enfim, as estratégias em que se originam e cujo esboço geral ou cristalização institucional toma corpo nos aparelhos estatais, na formulação da lei, nas hegemonias sociais." (p. 88-89)
Assim, com a saída da Igreja do campo de controle do sexo no século XVIII, tal tarefa vira responsabilidade do Estado. Seus dispositivos de saber-poder são, agora, (1) a histerização do corpo feminino, (2) a pedagogização do sexo das crianças, (3) a socialização das condutas (normais e anormais) de procriação e (3) a psiquiatrização do prazer perverso. Para isso, foi preciso criar tecnologias de controle do sexo, e Foucault cita pelo menos três delas: a Pedagogia e o ensino de crianças, a Fisiologia como medicina do sexo feminino e a Economia como o controle demográfico.
Vale ressaltar, no entanto, que o controle do sexo, da sexualidade, dos "instintos sexuais" era algo restrito às classes elitizadas. Não foi uma tentativa de dominar as classes desprivilegiadas (pelo menos a priori), mas de refinar a elite. Aqui, vale citar o conceito de biopoder proposto por Foucault antes de dar continuidade ao tema iniciado. Assim, se antes o poder se manifestava nas sociedades antigas a partir da morte (ou seja, quem morre e quem não morre), após o período clássico é o controle sobre a vida que se sobressaiu. O sexo, por ser o mecanismo primordial que dá início à vida precisava, portanto, ser controlado. Controlar o sexo era, em última instância, controlar a vida. Dessa forma, a descendência sadia das classes elitizadas foi motivo último da ampla orientação sexual, da disseminação de vários mecanismos de saber-poder sobre o sexo que imperaram na Idade Moderna. "Ao invés de uma repressão do sexo das classes a serem exploradas, tratou-se, primeiro, do corpo, do vigor, da longevidade, da progenitura e da descendência das classes que 'dominavam'" (p. 116).
Pode-se notar, portanto, o caráter de “novidade” que ainda cerca as ideias de Foucault. Com um olhar apurado, Foucault foi capaz de mostrar uma nova forma de olhar o nosso passado, de entender como nos constituímos. Mas antes de todas essas ideias, a que mais me chamou a atenção, talvez a ideia principal que Foucault tentou passar é a seguinte: de que tanto o sexo quanto as sexualidades são, antes de mais nada, discursos socialmente constituídos. E não algo natural, intrínseco a uma suposta natureza humana. No fundo, é uma forma indireta de dizer que a ciência não descobre verdades, mas as produz; uma ideia que Foucault desenvolve com mais exatidão em suas obras posteriores.

REFERÊNCIA
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: A vontade de saber. Tradução de Maria Thereza de Costa Albuquerque e J.A. Guilhon Albuquerque. 13 ed. Rio de Janeiro: Graal, 1988.






[1] Vale notar que as considerações de Foucault se referem quase que inteiramente à história européia.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

A Geração Mimimi

Certa vez, um tio meu (irmão de meu padrasto) disse, numa dessas reuniões familiares típicas, que hoje em dia as coisas estão mais difíceis para nós. De maneira literal, ele disse que “hoje não se pode mais fazer qualquer piada que já vem um metido a ofendidinho fazendo mimimi” (sic). Ao meu caro leitor, que leu o título desse texto e acreditou que eu discorreria sobre o tema na mesma perspectiva de meu tio, devo dizer que provavelmente irá se decepcionar lendo os próximos parágrafos. Isso porque irei exatamente ao caminho contrário, e defenderei aqueles (ou uma grande parcela daqueles) que são peritos na arte de fazer mimimi.
Dessa forma, quero trazer uma situação que talvez ilustre melhor esse caso. Recentemente, Renato Aragão, um humorista muito famoso no Brasil, disse que antigamente os negros e os gays não se ofendiam com as piadas sobre negros e gays. Inclusive, o Mussum, personagem da turma dos Trapalhões, já foi um alvo fácil das piadas racistas da turma. O que Renato Aragão disse é, de fato, verdade, e se aproxima muito do comentário que meu tio fez. Mas como diria uma professora minha da faculdade, não só de fatos vive o homem, mas de todas as interpretações e significações que acompanham tais fatos. Ou seja, tal verdade deveria vir em tom de elogio e esperança de que algo está melhorando. Mas não é bem assim que ocorre. Quando tais fatos são ditos, é em tom de crítica que ocorre. Num tom de algo que mudou, mas não deveria ter mudado.
Mas afinal, o que vem a ser um mimimi? Dentro da minha capacidade limitada de interpretação, entendo o mimimi primeiro como uma onomatopéia que visa imitar um choro próprio de crianças pequenas. Mas não qualquer choro. Não é o choro de fome, de sede, de tristeza, de abandono ou de fralda suja que a ideia de mimimi busca se aproximar. É do choro próprio de crianças que se convencionou chamar de “birrentas”, ou seja, crianças que forçam determinado choro para buscar ter algo que não é necessário a elas, um choro que visa um fim totalmente fútil (essa palavra não será mais repetida no texto, mas acho importante guardá-la na memória). Já ficou claro que, como onomatopéia, o mimimi não é nem um pouco parecido topograficamente com o choro de crianças “birrentas”. Mas, por algum motivo que desconheço, é o mais próximo desse choro.
Ora, entendendo o mimimi dessa forma, resta falar a quem ele é geralmente “dado de presente”. Forçando a memória, lembro que o mimimi já era uma palavra usada quando eu era criança, e descrevia (obviamente) todas às vezes em que eu fazia “birra” (sim, eu já fiz muita birra). Mas hoje em dia eu praticamente desconheço pessoas que usam essa palavra em situações como essa. Talvez seja devido à minha experiência limitada, mas eu sinceramente desconheço. Ao contrário, tal frase é geralmente usada com pessoas grandes já, mas pessoas que desejamos na verdade tomar como verdadeiros bebezões.
Assim, nos dias de hoje, numa associação grotesca e perversa, passamos a utilizar o mimimi como forma de desqualificar a opinião do outro, subentendendo que esse outro é um verdadeiro “bebezão birrento”. Ora, quem dá atenção a uma criança birrenta? Geralmente quando tal atenção é dada, é na forma de espanto e recriminação, como um pai ou uma tia que diz apenas com o olhar “Que coisa feia, guri! Pare com isso agora!”. Ninguém tenta conversar com o bebê birrento e entender o que ele quer e porque o quer. Seguindo essa linha de raciocínio, dizer que o outro está fazendo mimimi é uma forma de dizer que ele certamente é uma criança, alguém imaturo e portanto, alguém com o qual não devemos dar o prazer de um diálogo. E no fundo, o mimimi é isso mesmo: uma tentativa de acabar com o diálogo e calar a boca desse outro com quem estamos falando.
Como um internauta inveterado, já não consigo passar meus dias sem navegar na internet. Seja por diversão, seja por informação, é quase certo que uma hora eu estarei lá durante o dia. E quase como uma regra, notei nesse espaço que o mimimi é sempre usado para descrever as palavras de pessoas que reclamam contra algum tipo de preconceito (racismo, homofobia, machismo, transfobia, etc.). Lembro inclusive, nas minhas primeiras aventuras pela internet, que tal palavra era usada para nomear reclamações contra preconceitos tão naturalizados, que pareciam normais. Um exemplo ainda vívido em minha memória foi a de um rapaz que disse para uma moça parar de fazer mimimi, isso porque ela estava reclamando, nos comentários de um texto feminista, sobre o fato dela e sua mãe ainda serem as únicas responsáveis pelos afazeres domésticos numa casa com mais três homens.
Apesar e absurdo (pelo menos absurdo a quem, como eu, ama fazer um mimimi), essa situação era, e talvez ainda seja, bastante naturalizada no nosso cotidiano, e mesmo que de maneira forçada, é fácil para nós entendermos porque grande parte das pessoas entendem as reclamações sobre preconceitos naturalizados como um verdadeiro mimimi. Agora o que eu realmente não aceito como algo naturalizado é a violência física (1), mesmo quando ela é direcionada a grupos historicamente marginalizados.
Digo isso para que fique mais claro o espanto com que eu fiquei ao ver no facebook, ano passado, os comentários abaixo de uma notícia (publicada pela Folha de S. Paulo) sobre um jovem gay que foi agredido justamente por ser gay. Bom, se já não bastasse a notícia em si ser triste, os comentários eram ainda mais horríveis. Infelizmente não tenho tal notícia em mãos, mas ainda guardo o horror com que fiquei ao ler um comentário que um homem fez em resposta as palavras de um jovem gay que se solidarizou com o caso. Em resumo, o homem disse para esses gays pararem de mimimi, pois se andassem que nem homem na rua, isso não teria acontecido. O show de horrores continuou quando vários comentários de apoio surgiram não ao jovem gay que se identificou com a notícia, mas com o homem que “teria falado nada mais do que a verdade”.
Por isso, parei de por um tempo de ver com bons olhos aqueles que tinham como argumento principal a famosa frase “pare com mimimi!”. Sei que parece paranóia minha, mas passei a ver tais pessoas como o tipo de gente com o qual é impossível travar um diálogo de diferente para diferente (afinal, diálogo de igual pra igual é fácil). São pessoas que descobriram uma forma sutil, mas igualmente violenta de calar qualquer um que pensa diferente e anseia pela quebra de um determinado status quo.
Na minha curta experiência, cansei de ouvir minhas palavras serem rotuladas como mimimi, como algo próprio de uma criança birrenta que, justamente por ser criança, não é passível de entender aquilo que os adultos, e portanto mais maduros, entendem perfeitamente sobre a vida. Para o bem ou para o mal, isso me ensinou a mais ouvir do que falar.
De qualquer forma, já aprendi a aceitar o fato de faço parte de um seleto grupo que tomo aqui a liberdade de nomear como a geração mimimi. E talvez como um alívio de espírito, ou uma luta realmente válida, proponho um novo entendimento desse termo. Em vez de uma palavra que rotule pessoas que não são dignas de participarem de um diálogo com pessoas que entenderiam de forma definitiva a realidade, prefiro imaginar agora o mimimi como uma palavra que nomeie ações de pessoas que negam se calar diante de atrocidades, muitas delas simbólicas e naturalizadas, outras mais físicas e violentas.Uma geração que cansou de servir de piada àqueles que hoje “já não podem fazer piada com preto, índio, gay, mulher e travesti”. Uma geração que diz aquilo que muitos não querem ouvir e não se importam em serem a ovelha negra (ou colorida) do trabalho, da família, da faculdade e de qualquer outro espaço.
Proponho essa mudança de interpretação porque sei o quanto tal palavra consegue calar as pessoas, ofender quem já se sentia ofendido e desqualificar quem já é desqualificado no cotidiano. Mas proponho além de todas essas novas interpretações, pelo menos mais uma: a geração mimimi como a geração da paciência. Mas por quê? Pelo simples fato de que poucas pessoas sabem o quanto é difícil dialogar com gente que em vez de debater ideias, agride seu interlocutor (seja de forma física ou simbólica). Ora, defender uma sociedade mais justa é muita difícil nessas condições! Só tendo muita paciência e fazendo muito mimimi mesmo!


OBS:
1. Por favor, não entendam aqui que eu acho natural a violência simbólica. Para mim, naturalizado não é o mesmo que natural. Além disso, natural não é algo que eu acredite que seja um valor acima de todos os outros.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Resenha – O Pequeno Príncipe

"Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante"
A resenha de hoje contemplará o clássico de Antoine de Saint-Exupéry: O Pequeno Príncipe (Le Petit Prince). Pode parecer redundância postar um texto que se auto-intitula como “resenha” sobre esse clássico, mas é quase impossível se calar após a leitura desse livro. Devo dizer, no entanto, que tal resenha só foi feita depois de uma longa digestão desse livro, e só agora tomei coragem em escrever algo sobre.
Publicado nos Estados Unidos pela primeira vez em 1943, O Pequeno Príncipe narra em primeira pessoa as experiências de um aviador preso no deserto após um acidente em seu avião. Nesse meio tempo, o aviador conhece um garoto de cabelos loiros como a cor do trigo e que diz vim de um planeta onde ele é o único habitante.
Apesar da aparência de livro infantil, o livro chama atenção pelos profundos questionamentos sobre coisas próprias do mundo dos adultos. Seus personagens podem ser considerados como caricaturas de “tipos psicológicos” muito comuns no mundo em que vivemos, e talvez aí resida a atualidade de O Pequeno Príncipe.

A escrita do livro é feita de modo muito singelo, quase infantil realmente, e talvez esse fato tenha permitido com que as reflexões de Antoine de Saint-Exupéry fossem absorvidas tão facilmente pelo público. “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas” é a frase mais popular do livro, e retrata de forma muito simples a angustia do adulto moderno (ou pós-moderno) que gostaria muito de retornar à vida infantil, mas se encontra incapacitado por sua realidade. Uma realidade que, além de impedir ele de realizar seu sonho, o obriga a viver como eterno “acendedor de lampião” e a conviver com “reis”, “homens vaidosos” e “empresários”. 


Nando Reis

Iniciarei hoje uma série de textos que abarcarão músicos, compositores e/ou grupos musicais que muito me agradam e me inspiram de alguma forma. Mas pra quê isso? Bom, como tudo nesse blog, esse texto não vai servir para você em nada (eu acho). No entanto, servirá para mim, e muito, pois notei que sou o pior fã ou apreciador da arte musical que pode existir ou já existiu na terra: eu simplesmente não sei nada sobre aqueles que eu admiro e ouço muito! E isso é muito triste, pois não sirvo nem para defender meus gostos musicais...
Lamentos a parte, resta dizer o que eu vou necessariamente abarcar nesses textos. Dessa forma, me planejei em trazer pelo menos as seguintes informações: (1) a história do músico, compositor e/ou grupos musical tratado; (2) o gênero a qual pertence e (3) algumas das músicas que mais gosto (um mínimo de 5 músicas). E assim, sem mais delongas, iniciarei essa série de textos com um cantor que eu gosto muito: Nando Reis.


José Fernando Gomes dos Reis (nome de batismo o cantor) é natural de São Paulo e nasceu em 12 de janeiro 1963. A carreira musical de Nando Reis despontou desde a infância, quando este tocava seu violão e já começava a compor suas primeiras músicas.
A maior parte de sua história (20 anos de sua vida) foi como baixista da banda Titãs, e lá compôs diversas músicas que o tornaram famoso, entre elas "Querem Meu Sangue, "Os Cegos do Castelo" e "Pra Dizer Adeus". Em 1995, Nando Reis iniciou sua carreira solo, e desde então, criou vários sucessos que em minha opinião já podem ser considerados “clássicos”. Vale a pena citar aqui as músicas compostas por Nando Reis e cantadas por Cássia Eller: "Diariamente", "All Star", "O Segundo Sol" e "Relicário”.
Atualmente, Nando Reis virou notícia ao ser indicado ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock Brasileiro em 2014 graças ao seu álbum “Sei Como Foi em BH”.

TOP 5
5 – Mantra
Sabe aquele momento em que você está cansado de toda a cultura ocidental e quer algo um pouco mais “oriental”? Pois bem, se você sente falta desses momentos, sugiro que ouça essa música. “Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare”


4 – Um Simples Abraço
Essa é para aqueles que, quando amam, acreditam que “o mundo não precisa nunca mais girar”. É uma música calma, simples e muito gostosa de ouvir.


3 – O Segundo Sol
Pode ser redundante, mas essa música “não tem explicação”. É algo que não ouso interpretar, apenas escutar e apreciar gente que sabe ser poeta, como o Nando Reis.


2 – Por Onde Andei
Essa música me conquistou por causa de um único trecho: “Que a vida é mesmo/Coisa muito frágil/Uma bobagem/Uma irrelevância/Diante da eternidade/Do amor de quem se ama”. Depois disso, não consegui deixar de apreciar essa obra.


1 – All Star Azul
Em primeiro lugar, coloco a música que me fez conhecer Nando Reis e nunca mais largá-lo. Acho que essa música acende certos desejos secretos meus, como a parte que diz “E continuar aquela conversa que não terminamos ontem”.


Fontes: