Em 02 de setembro de 2010, a
filósofa e professora da USP Marilena Chauí apresentou no programa Café
Filosófico a palestra “A contração do tempo e o espaço do espetáculo”. Marilena
Chaui é autora de diversos livros, entre eles o livro O que é Ideologia e
Convite à Filosofia. Sua tese de doutorado se intitula Introdução à Leitura de
Espinosa, e possui livre docência pela USP, com o título A nervura do real:
Espinosa e a questão da liberdade.
Na palestra em questão, Marilena
propõe falar um pouco sobre a questão da realidade virtual a partir das noções
de espaço e tempo. Assim fazendo, Marilena reflete sobre as mutações que a
sociedade contemporânea gera nessas noções de espaço e tempo, bem como as
mudanças que as anteriores formas de sociabilidade ocorreram e ocorrem no mundo
contemporâneo dominado pela cultura virtual.
De fato, a palestra é bastante
interessante, e traz reflexões interessantes sobre o mundo virtual na
atualidade. Algo que me deixou bastante perplexo é o fato de que no mundo
virtual não lidamos mais com a questão do espaço e do tempo. Parece estranho
pensar em uma realidade onde o espaço e o tempo inexistem ou, no mínimo, são
difíceis de distinguir. O espaço se esvai no momento em que o sujeito virtual
não é de carne e osso. O sujeito virtual é, antes de tudo, um produtor,
receptor e veículo da informação. É um bit de memória. Seu espaço também não é
físico. Seu espaço é uma realidade computacional e informacional que reside no
âmbito do abstrato e do real. O tempo também se esvai. O sujeito virtual não se
desfaz, não sofre com o tempo. No entanto, concomitantemente a isso, o sujeito
virtual necessita produzir informação de forma constante. Ou seja, a cultura
virtual exige uma posição onde o “ser é ser percebido”.
Outro ponto de destaque é noção
de realidade virtual, que nas palavras de Marilena, é uma contradição
semântica. A realidade virtual não reside no mundo real. Como vimos, as noções
de espaço e tempo se esvaem nessa realidade, e como sabemos, tempo e espaço são
as características fundamentais para se conceituar a realidade. Por tanto,
Marilena diz que a realidade virtual reside no que ela chama de mundo das
possibilidades. A realidade virtual é algo que não é, mas sem deixar de
existir. Não é totalmente simbólico, mas sim, algo que pode vir a ser, mas
ainda não o é.
Como bases teóricas, podemos
notar que, além de se utilizar de Merleau-Ponty como referencial para suas
colocações (a Fenomenologia da Percepção), é visível uma influência enorme de
Guy Debord e a Sociedade do Espetáculo.
Como crítica a essa palestra
incrível, coloco a questão social evidente pelo menos no Brasil. É fato uma
grande parcela da população brasileira não tem acesso a isso que chamamos de
realidade virtual. Como é essa relação entre duas realidades distintas (pelo
menos no Brasil)? Aliás, há uma relação? São questões interessantes sobre a
temática.
Abaixo, o vídeo:

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