sexta-feira, 29 de novembro de 2013

“O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” – para nos lembrar de nossa sensibilidade infantil

"Estranho o destino dessa jovem mulher, privada dela mesma, porém, tão sensível ao charme das coisas simples da vida..." Amélie Poulain


Assistir O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (Le fabuleux destin d'Amélie Poulain) deveria constar na lista de filmes que todo mortal deveria ver antes de morrer. Não é pelo caráter autoritário não. É pelo sopro de vida que o filme traz mesmo. Amélie Poulain é um filme tão contagiante, que é quase impossível tirar os olhos da tela. Lhe falta ação, mas lhe sobra emoção. Drama, melancolia, amor, ironia, humor. Tudo misturado com um espírito infantil delicioso.
Produzido na França em 2001, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain é um filme dirigido por Jean-Pierre Jeunet e com roteiro de Guillaume Laurant.  No quesito premiação, em 2002, ganhou Melhor Roteiro Original e Melhor Desenho de Produção no BAFTA, Prêmio da Audiência no Festival Internacional de Edimburgo, Prêmio do Público no festival de cinema de Toronto e Prêmio Adoro Cinema de Melhor Atriz Revelação (Audrey Tautou no papel-título), além das várias indicações: cinco ao Oscar, uma ao Globo de Ouro, sete ao BAFTA, treze ao César e uma ao Grande Prêmio Cinema Brasil.


A história retrata a vida da jovem Amélie (Audrey Tautou) a partir da sua concepção (literalmente, a partir de sua fecundação), seguindo sua infância e chegando à vida adulta de nosso personagem principal e os acontecimentos que a norteiam atualmente. Criada pelos pais, Amélie Poulain quase nunca recebia demonstrações de afeto de seu pai. Os raros momentos de aproximação ocorriam quando seu pai a examinava (ele era médico). Mas a emoção era tanta devido a aproximação do pai, que o coração da pequena Amélie batia muito rápido. O pai, julgando ser aquela uma doença do coração, decidiu educá-la junto com a mãe em casa mesmo, tirando Amélie do convívio social. Como único amigo, Amélie tinha apenas um peixe dourado, que por incômodo da mãe, foi jogado num rio. Ainda na infância de Amélie, presenciamos a morte de sua mãe, que ocorreu de fuma forma trágica e igualmente cômica: uma mulher suicida se jogou do alto de uma igreja e caiu justamente em cima da mãe de Amélie. 


Os anos passam, e Amélie (já adulta) trabalha como garçonete no café Les 2 Moulins, em companhia de personagens bastante cômicos, mas incrivelmente familiares. Temos desde uma balconista que reclama a todo momento estar passando por problemas de saúde (inexistentes na verdade) até um homem ridiculamente obsessivo pela ex namorada.
Mas sua história muda de rumo mesmo quando Amélie vê a notícia da morte de Lady Diana. Surpresa com a notícia, Amélie deixa cair seu vidro de perfume, que ao bater em um dos ladrilhos do banheiro, revela o esconderijo de um tesouro há muito tempo perdido. O tesouro nada mais era do que as lembranças de infância de alguém desconhecido por Amélie, que motivada a entregar o tesouro ao seu verdadeiro dono, Dominique Brotodeau (Maurice Bénichou), se mete em uma das maiores aventuras de sua vida.
Ao ver a alegria de Dominique quando este reencontra seu tesouro, Amélie decide, de maneira anônima, ajudar aqueles que necessitariam de alguma ajuda. Fazendo em seu caminho amigos bastante íntimos e verdadeiros, como o Sr. Joseph (Dominique Pinon), conhecido como "Homem de Vidro”, Amélie se apaixona à primeira vista por um rapaz tão estranho quanto ela, o Nino Quincampoix (Mathieu Kassovitz). Por pura timidez e falta de trato nas relações interpessoais, começa a fazer um jogo de pistas para que ele a encontre. Nino trabalha numa sex shop e no trem fantasma de um parque, coleciona fotografias instantâneas que as pessoas jogam fora, é fissurado por um determinado senhor que tem dessas fotos espalhadas por todas as máquinas da cidade e embarca na aventura que é tentar conhecer a moça que encontrou seu álbum perdido.


Numa cultura tão individualista como a nossa, Amélie consegue, de forma sutil, dar um tapa em nossa cara. Quebrando o hábito de se olhar o próprio umbigo, Amélie consegue atingir também aqueles que só fazem boas ações quando há um público vendo tudo. O engraçado é que a infância de Amélie poderia ter lhe ensinado a ser extremamente individualista (filha única, educada em casa), mas a verdade é que isso não ocorreu. Tímida e introspectiva, ela consegue superar seus traumas infantis ajudando aqueles que passam pelo teu caminho, tal qual uma fada madrinha, que por pura bondade, realiza os sonhos daqueles que realmente merecem. Mas ao contrário dos contos de fadas, onde coisas boas só ocorrem por intermédio da magia, Amélie mostra que ainda é possível ser bondoso(a) mesmo num mundo individualista como o nosso.


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