Experiência (Das Experiment) é
um filme alemão produzido em 2001 sob a direção de Oliver Hirschbiegel. A
história trata sobre uma equipe de cientistas que seleciona 20 presos para uma
experiência psicológica em troca de um prêmio em dinheiro. Os prisioneiros são
divididos em dois grupos: oito deles fazem o papel de guardas e os outros 12,
de prisioneiros. As cobaias são isoladas numa área da penitenciária, onde
certas regras devem ser obedecidas e mantidas pelos guardas. No início, a
camaradagem reina no ambiente. Mas a violência não tarda a explodir quando um
ex-repórter disfarçado de preso lidera um motim. Os guardas reagem com
brutalidade crescente. O conflito se agrava com a morte de um dos presos e a
captura dos cientistas que criaram o projeto.
Dos vários pontos fundamentais
relacionados à ética que se destacam no filme, um deles são os relacionados à
pesquisa, ou melhor, do uso de seres humanos em pesquisas científicas. Desde os
horrores provocados nos campos de concentração nazistas, houve uma preocupação
maior com os perigos que a ciência poderia trazer à liberdade e dignidade
humana. Não à toa, em 1948 a ONU viu a necessidade de criar um conjunto de leis
e princípios que norteassem não apenas a pesquisa com seres humanos, mas toda a
responsabilidade e cuidado que se deve ter com a raça humana. Nascia assim a
Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Mas a pesquisa ainda não garante
a liberdade e dignidade em sua totalidade apenas com a Declaração Universal dos
Direitos Humanos. Há uma necessidade sempre presente de se refletir sobre
nossas técnicas e métodos antes, durante e após as pesquisas e intervenções com
seres humanos. E nesse momento que a atitude ética não só pode, mas como deve
imperar.
No filme, tal atitude ética
aparece em poucas vezes. Não houve momentos reflexivos sobre se a experiência
proposta pelo grupo de cientistas era uma intervenção que garantia a liberdade
e dignidade de todos os participantes.
O momento de apresentação da
pesquisa e seleção dos participantes deixou claras certas particularidades que
demonstraram desde o princípio que aquela pesquisa não seguiria rumos tão
éticos. O cientista-chefe da pesquisa ressaltou que aqueles que desejassem sair
da pesquisa, deveriam escolher aquele momento (a seleção), já que depois, tão
processo de saída seria mais complicado.
E de fato, a saída dos
participantes da pesquisa foi bastante dificultada pelos cientistas. Um dos
participantes não teve o pedido de saída aceito imediatamente. Os cientistas
precisavam de um tempo para “pensar sobre”. Após isso, a situação desse
participante não ficou tão boa com os guardas do local. Nesse momento, sua
condição de “livre participante” foi trocada para a condição de “prisioneiro”.
Questões emocionais foram
bastante trabalhadas no filme também, demonstrando o quanto a violência não se
apresenta apenas em seu aspecto físico. Humilhação, piadas depreciativas e
apelidos nada amigáveis se tornaram rotina no curto espaço de tempo em que
guardas e prisioneiros eram observados pela equipe de cientistas.
Dessa forma, “A Experiência”
pode ser um exemplo do quanto a ciência pode ser cega quando não anda lado a
lado com a ética. E isso causa sérios problemas quando seu objeto de estudo é o
ser humano, seja em seus aspectos sociais ou individuais.


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