sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Vamos falar de Ética nas Ciências Humanas? O exemplo do filme A Experiência (2011)

Experiência (Das Experiment) é um filme alemão produzido em 2001 sob a direção de Oliver Hirschbiegel. A história trata sobre uma equipe de cientistas que seleciona 20 presos para uma experiência psicológica em troca de um prêmio em dinheiro. Os prisioneiros são divididos em dois grupos: oito deles fazem o papel de guardas e os outros 12, de prisioneiros. As cobaias são isoladas numa área da penitenciária, onde certas regras devem ser obedecidas e mantidas pelos guardas. No início, a camaradagem reina no ambiente. Mas a violência não tarda a explodir quando um ex-repórter disfarçado de preso lidera um motim. Os guardas reagem com brutalidade crescente. O conflito se agrava com a morte de um dos presos e a captura dos cientistas que criaram o projeto.

Dos vários pontos fundamentais relacionados à ética que se destacam no filme, um deles são os relacionados à pesquisa, ou melhor, do uso de seres humanos em pesquisas científicas. Desde os horrores provocados nos campos de concentração nazistas, houve uma preocupação maior com os perigos que a ciência poderia trazer à liberdade e dignidade humana. Não à toa, em 1948 a ONU viu a necessidade de criar um conjunto de leis e princípios que norteassem não apenas a pesquisa com seres humanos, mas toda a responsabilidade e cuidado que se deve ter com a raça humana. Nascia assim a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Mas a pesquisa ainda não garante a liberdade e dignidade em sua totalidade apenas com a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Há uma necessidade sempre presente de se refletir sobre nossas técnicas e métodos antes, durante e após as pesquisas e intervenções com seres humanos. E nesse momento que a atitude ética não só pode, mas como deve imperar.
No filme, tal atitude ética aparece em poucas vezes. Não houve momentos reflexivos sobre se a experiência proposta pelo grupo de cientistas era uma intervenção que garantia a liberdade e dignidade de todos os participantes.

O momento de apresentação da pesquisa e seleção dos participantes deixou claras certas particularidades que demonstraram desde o princípio que aquela pesquisa não seguiria rumos tão éticos. O cientista-chefe da pesquisa ressaltou que aqueles que desejassem sair da pesquisa, deveriam escolher aquele momento (a seleção), já que depois, tão processo de saída seria mais complicado.
E de fato, a saída dos participantes da pesquisa foi bastante dificultada pelos cientistas. Um dos participantes não teve o pedido de saída aceito imediatamente. Os cientistas precisavam de um tempo para “pensar sobre”. Após isso, a situação desse participante não ficou tão boa com os guardas do local. Nesse momento, sua condição de “livre participante” foi trocada para a condição de “prisioneiro”.
Questões emocionais foram bastante trabalhadas no filme também, demonstrando o quanto a violência não se apresenta apenas em seu aspecto físico. Humilhação, piadas depreciativas e apelidos nada amigáveis se tornaram rotina no curto espaço de tempo em que guardas e prisioneiros eram observados pela equipe de cientistas.
Dessa forma, “A Experiência” pode ser um exemplo do quanto a ciência pode ser cega quando não anda lado a lado com a ética. E isso causa sérios problemas quando seu objeto de estudo é o ser humano, seja em seus aspectos sociais ou individuais.

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