sexta-feira, 22 de novembro de 2013

"Meu Mestre, Minha Vida" (1989) - O que Skinner nos diria sobre Joe Clark?

O sistema escolar que adotamos em nossa sociedade é, via de regra, um sistema que prioriza o controle aversivo. É pelo menos a conclusão que chegou Burrhus Frederic Skinner em seus textos, em especial A Escola do Futuro (SKINNER, 1991). Apesar de Skinner ter baseado seus escritos sobre a educação a partir de suas análises sobre a escola norte americana, é possível dizer que tal análise também cabe na educação brasileira, pois como bem sabemos, esse sistema escolar é de uso generalizado na sociedade. Sobre o controle aversivo, Skinner fala sobre a punição a partir do que se segue:
A punição, uma forma padronizada de suprimir o comportamento, é quase sempre a única maneira que os animais têm de controlarem-se uns aos outros, e nós retivemos boa parte dessa prática. Os governos usam a punição para suprimir o comportamento perturbador dos cidadãos e de outros governos. Porém a punição para o “não-estudar” é diferente. O objetivo é fortalecer o comportamento, não suprimi-lo. Os estímulos aversivos são usados como reforçadores negativos. No entanto, dessa prática resultam os mesmos subprodutos. Se podem, os estudantes fogem para jogos de hóquei ou então para o sono, e contra-atacam vandalizando a escola e agredindo os professores. (SKINNER, 1991)

É com essas palavras que se pode iniciar a análise do filme “Meu mestre, minha vida”, que conta a história de Joe Clark, um professor com métodos rudes e autoritários que foi convidado para assumir o cargo de diretor da problemática Escola High School em Nova Jersey de onde tinha sido demitido. Usando métodos nada ortodoxos, resolve provocar uma revolução no colégio que já havia sido tomado pelas drogas, gangues, vândalos e todo tipo de violência possível.

Apesar do apelo emocional do filme (a aclamação do “super-herói” que salva a todos), é inegável algumas desvantagens que os métodos utilizados por Joe traz. Apesar dos problemas em si terem se resolvido durante o filme (menos tráfico de drogas, alunos passando em provas de conhecimento), o controle aversivo utilizado por Joe traz inúmeros problemas de relacionamento, tanto entre professores quanto entre alguns alunos da escola. Isso é muito visível em uma cena específica, onde uma das professoras conseguiu expressar de uma forma bem marcante como ela se sentia oprimida pela postura do diretor em não respeitar e reconhecer os esforços do corpo docente. Relatando que trabalha na escola não só pelo emprego mais também pelos alunos, e que a postura extremamente autoritária e punitiva do atual diretor estava prejudicando a atuação dos professores.
Além disso, o fato de Joe ter tomado para si toda a responsabilidade da escola traz um problema que pode se refletir no futuro: a decaída de todos os avanços conquistados. Ou seja, a saída desse professor da escola pode prejudicar o desempenho de todo o sistema escolar, fato que é normal em situações onde não é um grupo o responsável pelos avanços, mas sim, uma única pessoa.
Como é sempre dito em relação ao controle aversivo, é fato de que essa forma de controle traz sim resultados, e na maioria das vezes imediatos, mas são pouco eficientes a longo prazo, além de que traz respostas emocionais desagradáveis àquele que está a mercê desse controle. Filmes como esse, apesar de trazerem a esperança ao telespectador de que a situação educacional pode melhorar, mostram que a única medida é o controle aversivo. Poucos filmes demonstram a eficácia de um sistema baseado no reforço positivo, até por que seus resultados são mais visíveis a longo prazo do que num curto espaço de tempo. Não podemos negar a vantagem que o filme traz em reforçar a imagem do professor engajado com a causa da Educação, mas focar excessivamente em métodos pouco eficientes quando vistos sobre um viés temporal longo apenas perpetua os problemas educacionais existentes no momento atual.

REFERÊNCIAS

SKINNER, B. F. Questões recentes na análise comportamental. Campinas, SP: Papirus, 1991

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