O texto resenhado de hoje é de
autoria de João Cláudio Todorov.
Todorov possui licenciatura em Psicologia pela Universidade de São Paulo (1963)
e doutorado em Psicologia pela Arizona State University (1969). É Professor
Emérito da Universidade de Brasília, e foi Reitor (1993-1997), Vice-Reitor
(1985-1989) e Decano de Pesquisa e Pós-Graduação (1985) da Universidade de
Brasília. O presente artigo foi publicado por ele no 23º volume da revista Psicologia: teoria e pesquisa, em 2007,
e tem por objetivos analisar os problemas existentes nas várias de definições
de Psicologia e expor as vantagens, do ponto de vista da Análise do Comportamento,
em definir a Psicologia como o estudo de
interações organismo-ambiente.
Todorov (2007) inicia seu texto
demonstrando a dificuldade que a definição de Psicologia traz a quem ousa
defini-la. Quer a caracterize como a ciência da vida mental, quer a defina como
uma ciência do comportamento, em ambas as definições só teremos a necessidade
de mais explicações.
Indiferentes às deficiências das
definições mencionadas, há os que se preocupam com uma definição que contente a
mentalistas e a comportamentalistas. Para estes, a Psicologia seria o estudo do
comportamento e da vida mental. Contudo, a reunião em uma mesma frase de dois
termos indefinidos não melhora uma definição (TODOROV, 2007, p. 57).
O objetivo de Todorov é, a
partir de um viés analítico comportamental, dar uma definição que caracterize
também o trabalho da Psicologia como um todo. Para Todorov, a Psicologia é uma
ciência que estuda as interações entre organismo e ambiente. Como organismo
escolhido como objeto de estudo, a Psicologia escolheu o homem, mesmo que ela se
utilize de outros animais para teorizar e estudar o comportamento humano.
Também é papel do psicólogo
estudar a interação do homem com o ambiente. Mas não são todas as interações
que Todorov (2007) considera como papel da Psicologia investigá-las. Assim, ele
exclui as interações que se referem a partes do organismo, sendo estas parte
das investigações que a Biologia deve tomar para si. Também exclui as
interações que lidam com grupos de indivíduos como unidades, tal qual as Ciências
Sociais. No entanto, as fronteiras entre as áreas não são rígidas, podendo ser
tranquilamente sobrepostas, a ponto de surgir áreas próprias de estudo, como a
Psicofisiologia e a Psicologia Social. “[...] a passagem da Psicologia para a
Biologia ou para as ciências sociais é muitas vezes questão de convencionar-se
limites ou de não se preocupar muito com eles” (TODOROV, 2007, p. 58).
Há, no entanto, de se tomar como
verdade um erro de pensamento comum, que é a questão do determinismo total. Todorov
enfatiza que, tomar a Psicologia como um estudo das interações não torna o
homem nem como um ser acima da natureza (divinizado, especial), e nem como um
robô totalmente determinado pela natureza. “Os homens agem sobre o mundo,
modificam-no e, por sua vez, são modificados pelas conseqüências de sua ação” (TODOROV,
2007, p. 58). Dito isso, o autor inicia então suas considerações sobre os
níveis de interação entre organismo e ambiente, com foco nas dicotomias
“interno/externo”.
Para Todorov (2007), homem
consegue se relacionar com o ambiente externo de formas diretas e indiretas.
Diretamente, nosso organismo se utiliza de atributos físicos para agir no mundo
físico. Por exemplo, estende a mão para buscar um copo de água. Por outro lado,
o organismo pode se relacionar com o mundo através de formas indiretas, como a
fala (comportamento verbal). Nesse mesmo exemplo, o organismo conseguiria o
copo de água através de um pedido verbal “me dê um copo de água”.
O trecho citado ilustra a divisão
do ambiente externo em físico e social. As interações do organismo com seu
ambiente social não são de natureza diferente daquelas interações com seu
ambiente físico; são apenas mais difíceis de descrever. Essa dificuldade,
entretanto, parece ser responsável pelo desenvolvimento independente de
diversas áreas da Psicologia e pelas tentativas de desenvolver-se diferentes
conceitos e princípios (TODOROV, 2007, p. 58).
Há também o ambiente interno,
que pode ser considerado como o ambiente biológico e/ou histórico. Todorov
ressalta, no entanto, que tais ambientes são indissociáveis. Não dá para se
pensar em ambiente físico, social, histórico e biológico de maneiras separadas.
Quando falamos de ambiente interno biológico, estamos afirmando que
modificações internas do organismo participam das interações entre o organismo
e o ambiente “[...] tanto como estímulos que controlam respostas que os
antecedem ou os seguem, quanto como respostas controladas pelos estímulos
componentes da interação, como veremos mais adiante” (TODOROV, 2007, p. 59).
Já no que diz respeito ao
ambiente interno histórico, as teorias geralmente recorrem a dois tipos
diferentes de explicação. Na primeira explicação imperam as teorias defensoras
de algum aparato mental interno, tais quais as diversas teorias psicanalíticas
apóiam. De outro lado, há as explicações “[...] que referem-se a contingências
passadas, observadas ou hipotéticas, como nas também variadas versões atuais do
comportamentalismo” (TODOROV, 2007, p. 59).
A decomposição do conceito de
ambiente em externo, físico ou social, e interno, biológico ou histórico, é
apenas um recurso de análise útil para entender-se a fragmentação da Psicologia
em diversos campos e para apontar os diversos fatores que, indissociáveis,
participam das interações estudadas pelos psicólogos. Sem a decomposição
necessária para a análise, o todo é ininteligível; por outro lado, a ênfase
exclusiva nas partes pode levar a um conhecimento não-relacionado ao todo. O
jogo constante de ir e vir, de atentar para a interrelação das partes na composição
do todo é essencial para o entendimento das interações organismo-ambiente (TODOROV,
2007, p. 59).
A partir disso, Todorov (2007)
enfatiza a interdependência entre os conceitos de comportamento e ambiente. Apesar
de salientar que não se sabe exatamente hoje o que é e o que não é
comportamento, sabemos hoje que comportamento não existe sem ambiente, e descrever
o ambiente sem citar o comportamento é algo inútil para um cientista do
comportamento. Temos assim uma noção de causa e efeito no que se refere à
relação entre o ambiente e o comportamento.
Devemos ao filósofo David Hume (1711-1776) a noção de causa
e efeito, onde causa é a mudança numa
variável independente, e efeito é uma mudança numa variável dependente. Na
questão do comportamento, entretanto, temos como fator relevante as variáveis
de contexto, que influenciam a ocorrência ou não do efeito após a ocorrência da
causa. Estamos falando aqui de antecedentes históricos. “Contexto não se refere
apenas a características atuais do ambiente externo” (TODOROV, 2007, p. 60). Ao
dizer isso, Todorov faz referência ao teórico Staddom, que de acordo com ele,
estabeleceu a noção de variáveis do contexto
Dessa forma, Todorov conclui seu
artigo demonstrando o conceito de contingência e a importância do psicólogo
buscar em sua atividade, as contingências que mantém determinado comportamento.
“Na análise do comportamento, o termo contingência é empregado para se referir
a regras que especificam relações entre eventos ambientais ou entre
comportamento e eventos ambientais” (TODOROV, 2007, p. 60).
O artigo é bem claro quanto ao
seu objetivo: definir a Psicologia como o estudo das interações. Só que mais do
que isso, Todorov se propõe a fazer uma tarefa que poucos ousam, que é dar uma
definição geral à Psicologia a partir de considerações da Análise do
Comportamento. Num momento em que a Análise do Comportamento é posta de lado
quando as diversas Psicologias definem essa área como a “Ciência da
Subjetividade”, Todorov parece ter conseguido colocar todas as abordagens numa
única definição sem, contudo, excluir a Análise do Comportamento.
Referência

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