Assisti nessa semana o filme
Labirinto do Fauno (El Laberinto del Fauno, 2006), do cineasta Guillermo Del
Toro. Misturando realidade e ficção, magia e história, o filme traça um mundo
ambientado na época da Guerra Espanhola, onde uma inocente garota é a mediadora
entre esse mundo histórico e um mundo repleto de criaturas fantásticas. Ok.
Devo concordar que não há uma definição rigidamente dividida entre o nosso mundo
e o mundo mágico, mas a sutileza da história me encantou e me fez refletir
bastante.
Resumidamente, o filme relata a
história de Ofélia (Ivana Baquero), uma garota que adora contos de fadas que
está acompanhada de sua mãe grávida, Carmem (Ariadne Gil), a caminho da casa de
seu padrasto Vidal (Sergi Lopez), um severo capitão das tropas facistas. Nesse
novo lugar, Ofélia conhece um fauno (Doug Jones) em um labirinto próximo das
instalações onde se encontra. O fauno, uma criatura um tanto estranha e
sinistra, convence Ofélia de que ela é, na realidade, uma princesa que há muito
tempo saiu do Reino subterrâneo e, na superfície, esqueceu quem era. Para
voltar a retomar seu lugar de direito, Ofélia deve completar três tarefas.
Nesse meio tempo, presenciamos a brutalidade de seu padrasto, a resistência
comunista e a história da empregada Mercedes.
O filme consegue aliar de forma
fantástica aspectos psicológicos dos personagens, a história da Guerra
Espanhola e toda a questão social e política que ocorria no momento. Sem medo
de ser clichê, posso dizer folgadamente que o filme foi feito para todos os
públicos, pois é uma produção que exige muito do telespectador. Não dá para ser
passivo diante desse filme; é imprescindível que interpretemos determinadas
situações a todo o momento.
Dessa forma, não há respostas
prontas sobre se o filme trata dos delírios de uma garota, ou se ele relata na
verdade como uma menina inocente descobriu um mundo mágico. De fato, ambas as
opções são possíveis e plausíveis no filme. Se for um delírio, podemos
interpretar como uma forma de fuga dessa menina inocente em meio a um mundo
cheio de maldade, brutalidade, guerras e morte. E se for uma descoberta real, o
filme também deixa dicas que há essa possibilidade. O labirinto que Ofélia
encontra realmente existe; o local onde seu padrasto mora é cercado por uma
floresta que traz a impressão de que estamos de fato num mundo mágico.
Seu padrasto é outro ponto forte
do filme. A impressão que fica é que, mesmo numa história repleta de seres
grotescos, Vidal seria, sem dúvidas, o personagem mais detestável e assustador.
Sua brutalidade, arrogância e orgulho próprio o torna para nós uma pessoa
difícil de ser compreendida e, portanto, digna de toda a nossa repulsa. Mas
certas passagens do filme nos da o vislumbre de um Vidal ainda perseguido pelo
fantasma de seu pai, o que provoca em si um misto de ódio e admiração.
Carmem é uma personagem alienada
do que ocorre em sua volta. Trancada em se quarto devido às complicações de sua
gravidez, Carmen torna-se uma mãe pouco participativa no que diz respeito aos
aspectos emocionais e aos conflitos de sua filha. Além disso, Carmen obviamente
pouco faz ou pode fazer para ajudar sua filha em relação às maldades praticadas
pelo Capitão Vidal. Minha impressão sobre a impotência dessa personagem foi
tanta, que na minha opinião a situação de Ofélia pouco mudou com a morte de
Carmem. Tal impotência, o entanto, foi algo fundamental para que a história fosse
coerente e tivesse a possibilidade das duas interpretações que eu me referi
anteriormente.
A personagem de Mercedes (Maribel
Verdú) também tem um destaque importante. Irmã de um dos lideres da
resistência, é talvez a personagem mais corajosa do filme. Isso por que ela
trabalha na casa do Capitão Vidal, sendo informante e provedora de suprimentos
da resistência. É a única adulta que escuta e acolhe Ofélia.
Seja como um filme infantil,
seja como uma lição de história, seja como um exemplo para futuros psicólogos e
psiquiatras terem um vislumbre do que seria um delírio, Labirinto do Fauno encanta
de forma sutil e apaixonante. Um filme onde é impossível não imaginarmos,
refletirmos e, por que não, sonhar junto com Ofélia.




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