sábado, 2 de novembro de 2013

Meus filmes – Labirinto do Fauno

Assisti nessa semana o filme Labirinto do Fauno (El Laberinto del Fauno, 2006), do cineasta Guillermo Del Toro. Misturando realidade e ficção, magia e história, o filme traça um mundo ambientado na época da Guerra Espanhola, onde uma inocente garota é a mediadora entre esse mundo histórico e um mundo repleto de criaturas fantásticas. Ok. Devo concordar que não há uma definição rigidamente dividida entre o nosso mundo e o mundo mágico, mas a sutileza da história me encantou e me fez refletir bastante.


Resumidamente, o filme relata a história de Ofélia (Ivana Baquero), uma garota que adora contos de fadas que está acompanhada de sua mãe grávida, Carmem (Ariadne Gil), a caminho da casa de seu padrasto Vidal (Sergi Lopez), um severo capitão das tropas facistas. Nesse novo lugar, Ofélia conhece um fauno (Doug Jones) em um labirinto próximo das instalações onde se encontra. O fauno, uma criatura um tanto estranha e sinistra, convence Ofélia de que ela é, na realidade, uma princesa que há muito tempo saiu do Reino subterrâneo e, na superfície, esqueceu quem era. Para voltar a retomar seu lugar de direito, Ofélia deve completar três tarefas. Nesse meio tempo, presenciamos a brutalidade de seu padrasto, a resistência comunista e a história da empregada Mercedes.
O filme consegue aliar de forma fantástica aspectos psicológicos dos personagens, a história da Guerra Espanhola e toda a questão social e política que ocorria no momento. Sem medo de ser clichê, posso dizer folgadamente que o filme foi feito para todos os públicos, pois é uma produção que exige muito do telespectador. Não dá para ser passivo diante desse filme; é imprescindível que interpretemos determinadas situações a todo o momento.


Dessa forma, não há respostas prontas sobre se o filme trata dos delírios de uma garota, ou se ele relata na verdade como uma menina inocente descobriu um mundo mágico. De fato, ambas as opções são possíveis e plausíveis no filme. Se for um delírio, podemos interpretar como uma forma de fuga dessa menina inocente em meio a um mundo cheio de maldade, brutalidade, guerras e morte. E se for uma descoberta real, o filme também deixa dicas que há essa possibilidade. O labirinto que Ofélia encontra realmente existe; o local onde seu padrasto mora é cercado por uma floresta que traz a impressão de que estamos de fato num mundo mágico.
Seu padrasto é outro ponto forte do filme. A impressão que fica é que, mesmo numa história repleta de seres grotescos, Vidal seria, sem dúvidas, o personagem mais detestável e assustador. Sua brutalidade, arrogância e orgulho próprio o torna para nós uma pessoa difícil de ser compreendida e, portanto, digna de toda a nossa repulsa. Mas certas passagens do filme nos da o vislumbre de um Vidal ainda perseguido pelo fantasma de seu pai, o que provoca em si um misto de ódio e admiração.


Carmem é uma personagem alienada do que ocorre em sua volta. Trancada em se quarto devido às complicações de sua gravidez, Carmen torna-se uma mãe pouco participativa no que diz respeito aos aspectos emocionais e aos conflitos de sua filha. Além disso, Carmen obviamente pouco faz ou pode fazer para ajudar sua filha em relação às maldades praticadas pelo Capitão Vidal. Minha impressão sobre a impotência dessa personagem foi tanta, que na minha opinião a situação de Ofélia pouco mudou com a morte de Carmem. Tal impotência, o entanto, foi algo fundamental para que a história fosse coerente e tivesse a possibilidade das duas interpretações que eu me referi anteriormente.
A personagem de Mercedes (Maribel Verdú) também tem um destaque importante. Irmã de um dos lideres da resistência, é talvez a personagem mais corajosa do filme. Isso por que ela trabalha na casa do Capitão Vidal, sendo informante e provedora de suprimentos da resistência. É a única adulta que escuta e acolhe Ofélia.


Seja como um filme infantil, seja como uma lição de história, seja como um exemplo para futuros psicólogos e psiquiatras terem um vislumbre do que seria um delírio, Labirinto do Fauno encanta de forma sutil e apaixonante. Um filme onde é impossível não imaginarmos, refletirmos e, por que não, sonhar junto com Ofélia. 

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